"É tarefa honrosa, emotiva e portanto difícil abordar a face médica, a meu ver a mais eclética da formação do Djalma da Cunha Batista. Neste ciclo de palestras onde a Fundação que leva seu nome o homenageia nos 80 anos de seu nascimento, pensei cumprir esta minha parte, a última do ciclo, começando pela análise da conjuntura política, econômica e social da década de 30, quando ele iniciava seu curso médica na Faculdade de Medicina da Bahia(...)
(...)O que o motivou a ser médico? Era importante que eu iniciasse pelos porquês e buscasse entender sua vida médica dedicada à Amazônia e aos amazônidas(...)
(...)Djalma Batista durante o curso médico se destacava dos colegas quando exercia funções técnicas peculiares do Curso. Internato no Sanatório São Jorge pode tê-lo iniciado na compreensão e compromisso do combate à tuberculose(...)
(...)Assim, o marco referencial que busquei ter acesso para entender e falar do médico que foi Djalma da Cunha Batista não poderia ser outro senão o seu Discurso de Formatura. Escolhido no meio de tantos, de diferentes origens e procedências, o acadêmico finalista de Medicina, da turma de 1939, com apenas 23 anos de idade, fez um disco de formatura intitulado Medicina e Estética, que se consituiu em sua primeira obra literária(...)
(...)Ao retornar aos 23 anos, o Dr. Djalma Batista funda em 12 de fevereiro de 1940, o Laboratório De Patologia Clínica que traz o seu nome, hoje com 56 anos de bons serviços prestados aos doentes do Amazonas.
(...)O reencontro com o amigo da adolescência Moura Tapajós, agora médico vinda escola de Octávio de Freitas no Recife, cimenta uma profunda convivência com base em respeito mútuo e no idealismo contagiante.
(...)É a convite de Moura que Djalma começa a militar na Liga Amazonense contra a Tuberculose (fundada em 1932)(...)
(...)Com o retorno dos jovens médicos e o crescimento galopante da "peste branca" (assim chamava-se a tuberculose), Moura Tapajós e seu grupo fundam em 31.07.1939 o Dispensário Cardoso Fontes(...)
(...)A partir desta base definitiva e contando com melhores e mais especializados recursos humanos, o Dispensário se desenvolveu com o "Ateneu Clemente Ferreira", um Centro de Estudos que Djalma assim definia: "é uma escola de disciplina mental e profissional e de incentivo espiritual, em que todos são mestres e discípulos fraternalmente, compreensivamente"(...)
(...)Todo este trabalho de quase 20 anos não lhe mudaram a modéstia e a humildade. "Não sou tisiólogo, apenas afeiçoado entusiasta da especialidade, sobretudo da parte social da tisiologia. O que se fizer não em meu benefício pessoal, nem me trará glórias, a que não aspiro, certo, com Anatole France, de que a glória é a mais funesta e a mais ridícula das ilusões de um cerébro doente"(...)
(...)Depois da atividade em tuberculose, o Dr. Djalma Batista foi o médica de família e dos doentes da Santa Casa que tinha certa de 30 leitos(...)
(...)Somente quando eu tomei consciência de que as perdas desses homens sabios àquela altura não eram somente dos cargos, mas de suas próprias vidas, pude perceber claramente que aqueles que tinham o "lado" bem definido, que estavam ombreados com os desvalidos, que pensavam o bem comum, "estavam subvertendo a ordem estabelecida" e deviam ter seus caminhos cortados. Tempos de chumbo! Como e quanto perdermos com eles! Penso que Djalma Batista começou a morrer com esta perda, com estes tempos.(...)
(...)Apesar de tudo isso, chegou o momento de nos encontrarmos no espaço que percebí ter sido sua grande realização: a Faculdade de Medicina. Educar as gerações, socializando o imenso conhecimento acumulado, lecionando Patologia Clínica. O meste nos ensinou, com a paciência do sábio que desvalorizava nossa ignorânci e alienação(...)
(...)Quando após uma de suas aulas, ele me destacou dos outros alunos e me convidou para estagiar em seu laboratório de patologia clínica, estava me abrindo um espaço que não só mudou a minha vida, mas me fez olhar o mundo sobre outro prisma(...)
(...)Hoje, o que mais nos tem entristecido além da saudade que sentimos dele, é revermos o quadro nosológico brasileiro se agravando com a volta das endemias medievais como a cólera, das viroses que nem conhecemos, ou da tuberculose que volta a ter a força da "peste branca"da década de 40"(...)
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(Trechos da palestra do Dr. Marcus Luiz Barroso Barros, proferida em 29.02.96, no Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde).
(Trechos da palestra do Dr. Marcus Luiz Barroso Barros, proferida em 29.02.96, no Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde).
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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