Henriqueta Lisboa
É estranho que, após o pranto
vertido em rios sobre os mares,
venha pousar-te no ombro
o pássaro das ilhas, ó náufrago.
É estranho que, depois das trevas
semeadas por sobre as valas,
teus sentidos se adelgacem
diante das clareiras, ó cego.
É estranho que, depois de morto,
rompidos os esteios da alma
e descaminhando o corpo,
homem, tenhas reino mais alto.
LISBOA, Henriqueta. Flor da Morte. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2004.
> Henriqueta Lisboa (1901-1985) é autora de uma significativa obra
poética, que alia ao diálogo crítico com a tradição lírica ocidental gestos
próprios de inovação. Em sua poesia confluem tendências simbolistas e
modernistas. Se a busca do ser, em Henriqueta Lisboa, corresponde à busca
da verdade poética, nesse percurso aflora a presença da morte, com seu poder de
negatividade. Dessa experiência dá testemunho um de seus melhores livros – Flor da Morte –, que reúne poemas
escritos entre 1945 e 1949.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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