quinta-feira, 10 de setembro de 2009

É ESTRANHO

Henriqueta Lisboa


É estranho que, após o pranto
vertido em rios sobre os mares,
venha pousar-te no ombro
o pássaro das ilhas, ó náufrago.

É estranho que, depois das trevas
semeadas por sobre as valas,
teus sentidos se adelgacem
diante das clareiras, ó cego.

É estranho que, depois de morto,
rompidos os esteios da alma
e descaminhando o corpo,
homem, tenhas reino mais alto.



LISBOA, Henriqueta. Flor da Morte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

> Henriqueta Lisboa (1901-1985) é autora de uma significativa obra poética, que alia ao diálogo crítico com a tradição lírica ocidental gestos próprios de inovação. Em sua poesia confluem tendências simbolistas e modernistas. Se a busca do ser, em Henriqueta Lisboa, corresponde à busca da verdade poética, nesse percurso aflora a presença da morte, com seu poder de negatividade. Dessa experiência dá testemunho um de seus melhores livros – Flor da Morte –, que reúne poemas escritos entre 1945 e 1949.

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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