Narrativa da morte de Ir. Dorothy Stang, por Binka Le Brenton.
Dorothy se voltou para ir, e Eduardo acenou. Rayfran puxou a arma. “Irmã!”, ele gritou.
Dorothy se virou e viu a arma. Ficou ali parada um instante, paralisada. “Meu Deus!”, disse a si mesma. “Ele realmente quer me matar.”
“Bem, senhora, ela o ouviu dizer, se não resolvermos este assunto hoje, não resolveremos mais.”
[...]
“Não faça isso”, ela dizia para Rayfran. “Não atire em mim.”
Rayfran ficou tenso. “Tira a mão da sacola!”, ele gritou. “É uma arma o que você tem aí ou o quê?”
“Eu não tenho arma”, ela respondeu em sua voz suave. “Minha única arma é esta.” E ela tirou sua Bíblia e a abriu calmamente.
Rayfran e Eduardo a observavam, hipnotizados. Detrás da árvore, Cícero fechou os olhos e rezou uma breve oração. Aproveitando-se de reservas que ela nem sabia que tinha, Dorothy leu com uma voz equilibrada: “Abençoados são os puros de coração, pois eles verão a Deus. Abençoados sãos os dóceis, pois eles herdarão a terra. Abençoados são os que têm fome e sede de justiça...”
Ela fechou a Bíblia e olhou nos olhos de Rayfran. Eles estavam duros como uma rocha. “Bem, senhora”, ele lhe cuspiu, “chega disso.”
O silêncio da floresta foi rompido por um tiro e Dorothy caiu por terra. A última coisa que viu foram as botas de Rayfran, de pé, esvaziando o tambor de seu revólver. Tudo ficou preto.
Os dois matadores se viraram sem uma palavra e correram para dentro da floresta. Cícero segurou a respiração e os observou enquanto partiam, e então, soluçando, correu na direção oposta o mais depressa que seus pés podiam levá-lo.
Houve um silêncio absoluto e então começou a chover sobre o corpo de Dorothy deitado na estrada, misturando seu sangue com o barro vermelho do chão da floresta.
BRETON, Binka Le. A Dádiva Maior. São Paulo: Globo, 2008.
Fotos: CNBB
Que país é esse?Leis, normas, justiça não passam de meras belas palavras escritas numa Constituição que está sempre privilegiando os mais fortes economicamente. Os que sonham e lutam por uma sociedade mais igualitária são considerados inimigos da pátria. Lamentável.
ResponderExcluirForte abraço
Nossa, o julgamento dos culpados pela morte da Irmã Dorothy foi uma vergonha...
ResponderExcluirPior que nossas leis são frágeis, e muitos assassinatos continuam acontecendo, e as punições, cadê? Um horror!
Enquanto isso, crimes vão correndo soltos, e quem tem coragem de lutar contra os poderosos correm risco de morrer. Lamentável..
Meu Querido Amigo do Coração
ResponderExcluirO que a comentar... só que... Irmã Doroty cumpriu seu tempo neste mundo...
Bjs.
Gostei do título do blog.Sou Talita Acrênea,nunca estive no Acre mas meu pai me deu este nome em homenagem a terra dele e de minha vó.
ResponderExcluirSinto muito por todos os que tem que morrer para fazer -se ouvir .
Grande abraço,
Talita
Eu estou lendo esse texto em 2016, inconformado com essa injustiça. A vida humana perdeu totalmente o valor no mundo dos homens.
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