sexta-feira, 19 de março de 2010

A TEMPESTADE

Gibran Kahlil Gibran

O pássaro e o homem têm essências diferentes. O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas; o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; viver conforme aquilo que se acredita é outra coisa. Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos. Muitos levantam a cabeça acima dos montes; mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma árvore idosa e carcomida, cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego.

Deus criou os corpos para serem os templos das almas. Devemos cuidar desses templos para que sejam dignos da divindade que neles mora.

Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis, de suas tradições e de seu barulho.

Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos.

Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas. Os sacerdotes aconselham os outros, mas não se aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.

Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vã. As descobertas e invenções nada são senão brinquedos com que a mente se diverte no seu tédio. Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, vencer os mares, tudo isto não passa de aparências enganadoras, que não alimentam o coração nem elevam a alma.

Quanto a esses quebra cabeças, chamados ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com as quais o homem se acorrenta, deslumbrando com seu brilho e seu tilintar. São os fios da tela que o homem tece desde o início do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, terá construído uma prisão dentro da qual ficará preso.

Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só...

É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma. Quem o sente, não o pode expressar em palavras. E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.

Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.


GIBRAN, Kahlil Gibran. Todo Gibran. Seleção e tradução Mansour Challita. Rio De Janeiro: Associação Cultural Internacional Gibran.

4 comentários:

  1. Meu Querido Amigo do Coração

    Uma verdade que alerta... mostra... prova...
    Somente a VERDADE...

    Quando aqui venho... meu coração se alegra... minha alma colhe luz...

    Obrigado pelo carinho e atenção...

    Bjs.

    OBS: Vou copiar para enviar por e-mails a todos os meus... Colocarei todos os créitos... risos...

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  2. Meu amigo
    Que texto maravilhoso, realmente temos que tirar ensinamentos com as tempestades em nossas vidas, ao invés de ficarmos lamentando. Viver é pura magia, mas temos que aprender a viver.
    Grande abraço

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  3. Quando a ternura
    parece já do seu ofício fatigada,
    e o sono, a mais incerta barca,
    inda demora,
    quando azuis irrompem
    os teus olhos
    e procuram
    nos meus navegação segura,
    é que eu te falo das palavras
    desamparadas e desertas,
    pelo silêncio fascinadas.

    Eugénio de Andrade

    Um lindo domingo e uma semana de paz e sucesso em tudo que fizer.
    Um abraço

    Sônia

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  4. *Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.*
    Forte este pensamento, que nos leva refletir sobre nossos atos e claro nossas posições diante da tempestade, ou seja, precisarmos aprender a conviver tb c/ as tempestades...

    Um grande abraço amigo***

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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