<< Três belos poemas de três grandes vozes da poesia brasileira. >>
PEQUENA FLOR
Cecília Meireles
Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil e preservar o perfume que aí dorme,
e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia,
e o sol claro do dia as claras estátuas beijando sente,
e espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho
pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,
e nesse temor e esperança aguarda o mistério transida
- assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.
Cecília Meireles
in: Viagem (1939)
ANÍMICO
Adélia Prado
Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.
Adélia Prado
In: Bagagem (1975)
ESTÉTICA MÚSICA
Carlos Drummond de Andrade
A rosa no vaso
já não te seduz.
Rosa na roseira
é a que te alumbra.
Pendente do galho,
é muito mais rosa.
O vaso é violência
contra a rosa pura,
contra a forma pura,
dom da natureza
que não merecemos.
Carlos Drummond de Andrade
In: Poesia Errante (1988)
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Créditos fotos:
Que fotos lindas heim!
ResponderExcluirabç