<<Ricardo Reis é um dos três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Ricardo Reis é um erudito que insiste na defesa dos valores tradicionais, tanto na literatura quanto na política. E retoma o fascínio do mestre pela natureza pelo viés do neoclassicismo.>>
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
27-9-1931
...
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14-3-1933
...
Domina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias? Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.
27-12-1931
...
Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebes ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
16-3-1933
--
PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 286, 289, 290.
Bom dia meu querido amigo!
ResponderExcluirAmo Fernando Pessoa e seus heterônimos. São minha inspiração.
Tudo de bom pra você, amigo*
Deus te ilumine!
Abraços
Lu
Sensacional, acabei de ler um pps que tem tudo haver com isso. Depois te mando, agora tenho que sair...
ResponderExcluirabç