segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

NA RIBEIRA DESTE RIO...


Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio.

Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.

Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi,
Ele passa e eu confio.


Fernando Pessoa
2-10-1933

***

PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Foto: Eduardo Duarte p/ Agência de Notícias do Acre

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