Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio.
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi,
Ele passa e eu confio.
Fernando Pessoa
2-10-1933
***
PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Foto: Eduardo Duarte p/ Agência de Notícias do Acre
Foto: Eduardo Duarte p/ Agência de Notícias do Acre
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