José Augusto de Castro e Costa
Minha mãe costumava falar que houvera um grande equívoco quanto ao lema expresso em nosso símbolo nacional – figurava a conjunção ao invés da terceira pessoa do verbo de ligação na citação Ordem e Progresso. De minha parte não chego a considerar um equívoco, mas um lapso por não se fazer ali constar mais um lema, aí, sim, figurando a frase com o verbo. Os dois vocábulos constituem-se, na verdade, em dois elementos indispensáveis para a vida em sociedade, pois ao que se percebe, a ordem é inerente ao progresso.
Nota-se que nosso país, em seus 511 anos, não obstante ser ainda relativamente jovem, já deveria estar em um grau de desenvolvimento mais elevado, não fosse à ausência de ordem em alguns setores, além de residir outro hábito: acompanhar erros e desmazelos de outrem em detrimento da correção e/ ou prevenção dos seus próprios erros. Porém, ressalte-se que tal procedimento não é exclusividade do povo brasileiro.
No Brasil chega-se à tradição de obras monumentais, que muitas vezes percorrem rumos incertos e licitações com orçamentos vultosos, reacendendo históricas polêmicas como a Transamazônica, a Transnordestina e a transposição do rio São Francisco, entre outras, cuja última, as estimativas chegam a R$ 4,5 bilhões, além de tramitar no STF quatorze ações contra a transposição devido ao impacto sobre o ecossistema.
Quanto ao Acre, a situação geográfica revela um sensível agravante. Desde seus primórdios suas administrações têm considerado erro palmar dar-lhe gerência homogênea para toda a área. É que se espraiam em sua vasta calota, dois vales distintos, não somente sob o aspecto hidrográfico, como ainda na contextura geoeconômica: Purus e Juruá, orientando-se em paralelo com o prolongamento através do Estado do Amazonas em busca da calha mater, o lendário Rio Mar. Daí, razão pela quais antigos governantes e muitos políticos reivindicavam autonomia e até desmembramento do Acre em dois territórios. Na verdade, a formação hidrográfica do Purus e Juruá não possibilita qualquer ligação entre ambos, de vez que correm no mesmo sentido, com mais freqüência de sudoeste para nordeste, num paralelismo que impede o aproveitamento de cada curso até suas cabeceiras para, dessas nascentes, floresta adentro, atingir-se a outra bacia.
A própria hileia é diversificada de um vale para o outro, tanto assim que na região do Purus e Acre, a castanha tem abundância preponderante na selva, quando no Juruá é visível a inexistência desse produto. Situando-se em Rio Branco, a capital do estado, fica bastante difícil a supervisão homogênea, sem o recurso da via aérea. Por via fluvial ter-se-ia que descer até o rio Solimões, no Amazonas, subir a calha amazônica para, depois de mais de dois meses, penetrar no rio Juruá, se houvesse condições de navegabilidade nos rios acreanos. Para a integração do estado a solução sempre esteve em rodovias, cuja trafegabilidade e durabilidade dependerão da construção e conservação que resistam às intempéries do tempo. Em regiões da Amazônia, no período invernoso, a grande quantidade de água, muitas vezes, costuma devastar parte das estradas. Para mantê-las em boas condições, precisa-se de planejamento e cuidados constantes dedicados a recuperação das mesmas.
BR-364 trecho entre Sena Madureira e Manoel Urbano Foto: Sérgio Valle para a Agência de Notícias do Acre. |
O mais difícil para a devida integração do Acre, em termos de rodovias, já está alcançado: a BR-364 ligando seus municípios e às demais regiões brasileiras e a BR-317 ao Pacífico. Não se pode vacilar, como disse antes, é quanto à respectiva manutenção. Rodovias interestaduais e estaduais constituem-se sempre em prioridade a gerar extensão de benefícios, ressaltando-se o exercício da ordem. Sem esta, continua-se a assistir a execução de projetos de lideres visionários, transformados em verdadeiros fiascos.
O Acre, devido à visibilidade positiva que vem conquistando na questão ambiental gerará muitos frutos para o Brasil, inserindo-o cada vez mais no plano nacional e internacional com respeitabilidade, conquistas que devem ser preservadas. O reconhecimento da maneira singular de ser de seu povo, a forma de pensar o desenvolvimento considerando o potencial econômico do estado, o respeito aos povos tradicionais - indígenas, seringueiros, ribeirinhos, além dos pequenos agricultores, moradores das cidades e vilas aliados à proposta de industrialização do governo, todos trabalhando com objetivo comum, sem explorações e vivendo pacificamente, encontrarão na ordem uma grande parceira para um progresso sustentável.
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* José Augusto de Castro e Costa é acreano, natural de Rio Branco. Reside em Brasília, e trabalha no Senado Federal, lotado no Instituto Legislativo Brasileiro – ILB.
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