(Um calendário aos pedaços)
Marcos Vinícius Neves
Mesmo nestes tempos de informação rápida e superficial, não podemos deixar de parar um pouco e olhar melhor pr'aquilo que passou. Quando não fosse por outro motivo, porque continua passando.
Várias pessoas ultimamente andam me cobrando textos mais curtos, sob pena de ser pouco lido. Não consigo deixar de achar que isso é sintoma dos Twiteres, Faces, Gtalks, etc. que nos assolam atualmente. Entretanto, vou fingir que não é nada disso e tentar seguir as lições de Eduardo Galeano (do qual falamos nessa coluna bem recentemente) mestre em contar histórias breves, mas com sentido.
Era uma vez um seringal (que não chegou a ser)
Era uma vez um seringal (que não chegou a ser)
Há 130 anos surgia à beira do rio Acre um seringal com destino de cidade. Na verdade o que deveria ser mais um seringal, como tantos outros que surgiam do dia pra noite naquele distante ano de 1882, logo se tornou um porto pra vender, aviar, comprar, trocar, negociar um pouco de tudo, inclusive amores fugidios com que escapar da solidão das florestas, colocações e seringais.
E foram tantas as casas comerciais, os hotéis, os restaurantes, os cassinos e todos os demais tipos de serviços que se possa imaginar, que não teve alternativa. O porto cresceu, criou ruas, ganhou casas, esquinas, moradores, praças, gentes e jeitos de cidade, até se tornar a maior de todo esse lugar. Mas nunca deixou de ser meio seringal, meio porto, meio floresta, meio cidade, meio rua, meio rio... E é por isso que, em certas ocasiões, tudo se mistura de novo, como neste ano de 2012.
Os ossos do Barão
Há 100 anos morria o Barão do Rio Branco, em cuja homenagem se nomeou essa cidade - que não tem nenhum rio "branco", mas sim um rio "acre" - porque não foi por questão de cor, mas de gosto que as pessoas fizeram questão de aqui permanecer, mesmo contra todas as evidencias e consequencias.
O que me lembra aquela musica: "Quem parte, quem fica! O que significa". Porque neste mesmo ano de 1912 em que partiu o Barão, chegava às terras acreanas outro homem que haveria de também mudar boa parte de nossa história: Mestre Raimundo Irineu Serra.
Cidadãos, enfim!
Há 50 anos os cidadãos acreanos deixavam de ser apenas aqueles que moravam nas cidades e seringais para se tornarem seres políticos de fato, como deveriam ter sido por direito desde sempre. Assim, em 15 de junho de 1962 terminava a maldição do Território Federal do Acre.
Uma praga bem rogada que, desde 1904, não permitiu que os acreanos comandassem seu próprio destino, forçando-os a engolir governantes desconhecidos, autoritariamente impostos pelo governo federal. E o pior é que nem o fato da maioria destes governantes não demonstrar nenhum outro compromisso com o Acre a não ser o de enricar o máximo possível no menor tempo possível, fez com que o governo brasileiro reconhecesse o absurdo da situação.
Foi necessária uma longa batalha no Congresso Nacional - que se arrastou por cinco anos, entre 1957-1962 - e uma intensa mobilização (através dos comitês Pró-autonomia) para que os acreanos pudessem enfim desfrutar de uma cidadania plena. Nada demais, enfim, apenas os mesmos direitos básicos de todos os outros brasileiros.
Há 100 anos morria o Barão do Rio Branco, em cuja homenagem se nomeou essa cidade - que não tem nenhum rio "branco", mas sim um rio "acre" - porque não foi por questão de cor, mas de gosto que as pessoas fizeram questão de aqui permanecer, mesmo contra todas as evidencias e consequencias.
O que me lembra aquela musica: "Quem parte, quem fica! O que significa". Porque neste mesmo ano de 1912 em que partiu o Barão, chegava às terras acreanas outro homem que haveria de também mudar boa parte de nossa história: Mestre Raimundo Irineu Serra.
Cidadãos, enfim!
Há 50 anos os cidadãos acreanos deixavam de ser apenas aqueles que moravam nas cidades e seringais para se tornarem seres políticos de fato, como deveriam ter sido por direito desde sempre. Assim, em 15 de junho de 1962 terminava a maldição do Território Federal do Acre.
Uma praga bem rogada que, desde 1904, não permitiu que os acreanos comandassem seu próprio destino, forçando-os a engolir governantes desconhecidos, autoritariamente impostos pelo governo federal. E o pior é que nem o fato da maioria destes governantes não demonstrar nenhum outro compromisso com o Acre a não ser o de enricar o máximo possível no menor tempo possível, fez com que o governo brasileiro reconhecesse o absurdo da situação.
Foi necessária uma longa batalha no Congresso Nacional - que se arrastou por cinco anos, entre 1957-1962 - e uma intensa mobilização (através dos comitês Pró-autonomia) para que os acreanos pudessem enfim desfrutar de uma cidadania plena. Nada demais, enfim, apenas os mesmos direitos básicos de todos os outros brasileiros.
O que alguns não querem lembrar
Há 35 anos, em 1977, tinham início as primeiras pesquisas arqueologicas a serem feitas no Acre. Um trabalho extraordinário realizado pela equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) que - mesmo sem as facilidades tecnológicas com que contamos atualmente, tipo: gps, google earth, etc. - conseguiu revelar dezenas de sítios arqueológicos. De barco, de jipe, de pés, a partir das informações generosamente dadas pelo moradores destas terras e florestas, começava a se descortinar nosso passado profundo nas margens do Purus, do Iaco, do Iquiri, do Acre, do Juruá, do Tarauacá, do Muru.
Não podemos esquecer que, até então, a história do Acre começava em meados do século XIX e que, desde então, passou a ser contada em milhares de anos. Um grande salto para o conhecimento da trajetória humana nos altos rios desta Amazônia ainda incompreendida.
O que alguns querem que se esqueça
Há 20 anos, tão generosamente quanto havia recebido quinze anos antes, o Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) deu à Célinha, uma acreana do pé rachado, a oportunidade de realizar a primeira escavação arqueológica sistemática no Acre.
Financiado pelo Smithsonian Institution, graças aos esforços de Ondemar Dias e Betty Meggers, o trabalho realizado no extraordinário Sítio Los Angeles, que atualmente seria genérica e pobremente reduzido à condição de "geoglífo", foi um marco na pesquisa arqueológica no Acre porque nos forneceu inéditas e fundamentais informações deste sítio que é um dos principais e mais ricos já descobertos na Amazônia Ocidental.
Pena que aqueles que praticam uma propaganda sensacionalista de sí próprios, mal disfarçando seus evidentes interesses financeiros, insistam em querer apagar esse pioneiro e importante trabalho. Só mais um exemplo daquela velha história já cantada por Caetano: "Narciso acha feio o que não é espelho". Mas não adianta, porque há verdades que nunca poderão ser apagadas, quando não fosse por mais nada, apenas porque são simples e incorruptíveis verdades e assim, quando menos se espera, sempre haverão de voltar à tona.
Há 35 anos, em 1977, tinham início as primeiras pesquisas arqueologicas a serem feitas no Acre. Um trabalho extraordinário realizado pela equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) que - mesmo sem as facilidades tecnológicas com que contamos atualmente, tipo: gps, google earth, etc. - conseguiu revelar dezenas de sítios arqueológicos. De barco, de jipe, de pés, a partir das informações generosamente dadas pelo moradores destas terras e florestas, começava a se descortinar nosso passado profundo nas margens do Purus, do Iaco, do Iquiri, do Acre, do Juruá, do Tarauacá, do Muru.
Não podemos esquecer que, até então, a história do Acre começava em meados do século XIX e que, desde então, passou a ser contada em milhares de anos. Um grande salto para o conhecimento da trajetória humana nos altos rios desta Amazônia ainda incompreendida.
O que alguns querem que se esqueça
Há 20 anos, tão generosamente quanto havia recebido quinze anos antes, o Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) deu à Célinha, uma acreana do pé rachado, a oportunidade de realizar a primeira escavação arqueológica sistemática no Acre.
Financiado pelo Smithsonian Institution, graças aos esforços de Ondemar Dias e Betty Meggers, o trabalho realizado no extraordinário Sítio Los Angeles, que atualmente seria genérica e pobremente reduzido à condição de "geoglífo", foi um marco na pesquisa arqueológica no Acre porque nos forneceu inéditas e fundamentais informações deste sítio que é um dos principais e mais ricos já descobertos na Amazônia Ocidental.
Pena que aqueles que praticam uma propaganda sensacionalista de sí próprios, mal disfarçando seus evidentes interesses financeiros, insistam em querer apagar esse pioneiro e importante trabalho. Só mais um exemplo daquela velha história já cantada por Caetano: "Narciso acha feio o que não é espelho". Mas não adianta, porque há verdades que nunca poderão ser apagadas, quando não fosse por mais nada, apenas porque são simples e incorruptíveis verdades e assim, quando menos se espera, sempre haverão de voltar à tona.
Geografia de nós
Há apenas três dias nos deixou esse grande brasileiro chamado Aziz Ab'Saber. Um homem que fez da ciência e do Brasil as causas de sua vida. Este geógrafo que amava sua profissão, como poucos atualmente, nos fez ver e pensar a Floresta Amazônica, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Cerrado, como nenhum outro antes. O Brasil perde assim um intransigente defensor e uma referencia, não só científica, mas principalmente ética. Enfim, deixamos de contar com a presença deste homem íntegro que carregava o "saber" em seu próprio nome, mas não com seu exemplo. E este haverá de permanecer como motivação para todos os que não aceitam as iniquidades cometidas em nome da vaidade ou de uma falsa ideia de "ciência" em nosso país.
* O título deste artigo é vagamente inspirado no titulo do celebre romance de Gabriel Garcia Marques: "O amor nos tempos do cólera."
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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