quarta-feira, 11 de abril de 2012

É DIFÍCIL PEDIR PERDÃO?

Profª. Luísa Galvão Lessa
Linguagem e Cultura
Uma das coisas mais injustas da vida é o fato de não se poder controlar o tempo. Depois, esse tempo que move a vida pode ser cruel com as pessoas. Jovens erram porque sabem pouco. Velhos erram quando, achando que sabem tudo, tentam consertar as coisas que estragaram quando jovens. Reparação é fato para objetos, não para pessoas mortais. Nem sempre é possível consertar os erros do passado, mas é possível não repeti-los. É ato digno repará-los com a palavra ”perdão”, desde que o intuito não seja por “panos quentes”, encontrar justificativas para aquilo que não é justificável.

A vida caminha, independentemente de erros e acertos, para o curso inexorável do tempo, sempre avançando. A vida não caminha para trás. Por isso não tem sentido lamentações de erros, é preciso não cometê-los, repetidamente, fingindo está fazendo o certo. Enganar os outros é algo terrível, enganar a si mesmo é uma estupidez! É digno agir com inteireza, seriedade, assumindo aquilo que foi mal feito e procurar fazer bem feito, importando-se com o bem maior que é a vida, a felicidade, a justiça. Minimizar os erros é o pior que pode fazer o ser humano. Culpar os outros, algo cruel, grosseiro, avassalador.

Quando um erro é grande demais, é questão de honradez tentar repará-lo, fazendo uma autoanálise, procurando saná-lo, pedir perdão e não insistir em permanecer na mesma encruzilhada. Não se deve achar que tudo foi bobagem, pois o ser humano é um ente repleto de sentimentos e de memória. Não se deve viver de mágoas, mas não se pode fazer de conta que nada aconteceu. Os acertos da vida também se fazem com as memórias do passado. É preciso abandonar maldades, repor verdades, reparar enganos, perdoar e fazer-se perdoar. A palavra desculpa existe para ser usada, não como metáfora, mas com as veias do coração.

O difícil é que nem todas as pessoas conseguem enxergar seus próprios erros, põem, sempre, culpa nos outros. É mais fácil culpar alguém a redimir-se de incorreções, pecados, exageros, excessos maldosos. Há pais que acham que os filhos são santos. Acobertam tudo quanto fazem e, com isso, atribuem à culpa aos outros. Erro grosseiro, porque os filhos se tornam insuportáveis diante do mundo. As pessoas, modo geral, não os suportam pelo excessivo mimo que recebem dos pais. Eles não sabem resolver nada na vida porque têm os pais para fazer isso para eles. Não lutam, deixam os pais lutarem por eles. Não procuram um espaço ao sol, os pais trazem o sol para eles.

A reparação do sofrimento causado às outras pessoas pode ser um caminho árduo, solitário e triste, mas será que se deve ignorar tal tarefa só porque ela é difícil?! Voltar atrás não é melhor do que se perder no caminho, deixar-se de ser feliz? O ser humano precisa ser honesto, correto, corajoso. É preciso agir, sempre, com muita dignidade. Não se pode consertar tudo e nem mudar o que já foi, mas enquanto vida houver é possível tentar, pois há esperança. E mudar não é ato de humilhação, é ação de grandeza. Todas as pessoas já tiveram, de uma maneira ou de outra, experiências difíceis na vida. Isto faz parte dessa viagem sobre a Terra – e embora muitas vezes acredite-se que “as coisas podiam ter acontecido de outra maneira” - o fato é que elas não podem ser mudadas, ficaram no passado, magoaram, feriram, sangraram o coração. Todavia, com a experiência passada é possível fazer um presente melhor, analisando erros e acertos.

Finaliza-se a reflexão dizendo que a dor faz parte da vida - como faz parte a alegria, a fome, e a vontade de sonhar. Não adianta fugir, porque ela termina nos encontrando. Mas sua única função é nos ensinar algo. Aprendemos suas lições, e isso basta. Sigamos em frente com a coragem de olhar para trás e fazer do presente um momento sempre melhor. Viver dignamente é a estrada mais florida.




*Luísa Galvão Lessa é da Academia Acreana de Letras e da Academia Brasileira de Filologia.

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