Localizada estrategicamente em um morrete na esquina da Luiz Meirim Pedreira com a Desembargador Távora fica a fantasmagórica 'casa dos Ruelas', uma das famílias(de origem lusitana) mais abastadas da sociedade cruzeirense em décadas de outrora. Estrategicamente, porque dela se avistaria o movimento de gente que chega e sai pelo rio Juruá.
A caminho de vários mercados de produtores e marreteiros, hoje, o movimento de pessoas ainda é grande naquela parte da cidade. Às pressas os transeuntes ignoram a paisagem já cansada. A velha casa a cada dia fica cada vez mais invisível. É como não existisse mais. É a monotonia da pressa moderna.
Abaixo do que um dia foi uma pequena sacada protegida por barras de ferro e acima da porta principal frontal está gravada em relevo a data 1940, provavelmente ano de sua inauguração. Estranha mania da época que parecia adivinhar que ficaria a construção para a posterioridade a mostrar a exuberância de um passado não tão perfeito.
A velha construção pertence hoje a um comerciante forte desta plaga. Dizem que não vende e nem troca. Queria mesmo era derrubá-la. Possivelmente em seu lugar ergueria mais uma dessas lojas ou mercadinho ultrapassados e apertadinhos que nem estacionamento ou qualquer outro conforto oferecem aos usuários.
Coisa da mentalidade tacanha que ainda reina por aqui de achar que só existe movimento comercial se for " perto do rio". Reza a lenda que só não conseguiu seu intento porque o prefeito à época declarou ser a casa 'patrimônio histórico', portanto embargando a demolição.
Conta-se que ainda foi oferecido outro terreno em troca. Por birra, o empresário não aceitou, como também não permitiu a reconstrução da casa. O empresário espera vencer o poder público pelo cansaço.
Se a conversa popular é verdadeira ou não, eu não sei. Só sei que como não sou nem um pouco normal, vez ou outra costumo passar horas a contemplar a construção fantasma e invisível aos outros. Isto porque uma força estranha que eu não poderia explicar me atrai o olhar e pensamento quando por ali passo.
Como num filme a mente viaja aos anos 40. Vejo a casa de paredes novas, toda pintada de branco com detalhes em vermelho, com ampla escadaria. Ouço vozes, choros e risos. Vejo reuniões de gente importante e bem trajada. Naquela casa, o poder econômico e político da pequena e isolada cidade era passado em conversas à boca pequena.
Se tivesse talento para escritor faria um romance a partir daquelas imagens. Mas sou só um blogueiro sem dom e de paupérrima qualidade.
Na pequena sacada aparece o que parece ser um figura feminina. Eu ouço o que ela fala sem que ninguém veja. Ela diz que o tempo gira e a roda da fortuna também. O que hoje é certo, amanhã não terá continuidade. O dinheiro e o poder sempre trocará de mãos.
Essa é a mensagem que a velha casa me diz. Essa é a sua sina e assim quis o destino que permanecesse em pé até hoje, daquela forma ali esquecida, como esquecida foi a história de seus antigos proprietários. Se ela tivesse sido reformada mesmo mantendo a arquitetura original jamais me despertaria tamanha curiosidade.
Sorte de muitos que existem poucos loucos como eu a ver ou imaginar coisas onde não existem e que na verdade não têm serventia alguma ao mundo real. A cidade não precisa mais dela. O que é do passado ficou por lá, preso ao tempo e espaço.
Mas aquela casa antiga e em ruínas me intriga, sobretudo porque ela não me diz do passado e sim do presente e de um futuro próximo, de uma verdade insofismável : a mudança é a única certeza.
Quem sabe não seja eu que precise mudar primeiro...
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DOM HÉLDER CÂMARA
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