A trama, fina e doirada,
À luz do sol reverbera...
E
a aranha, encolhida e feia,
Fica
à espera.
Voa ali, pousa adiante,
Rápidas curvas descreve...
Ébria de luz, fulgurante,
Segue a própria fantasia!
Céu
azul, ar puro e leve...
Que lindo dia!
Lá vem a mosca. O caminho
Esplende ao Sol, que se deita
No Ocaso devagarinho...
Zum-zum... Lá vem... Presa rica!
E
a aranha, de longe à espreita,
Imóvel fica.
Lá vem. Descuidada e linda,
Zumbe no ar. Silêncio em roda.
Por tudo uma calma infinda
A tarde suave estende...
E
a mosca, na teia, toda
Se enreda e prende.
As lindas asas agita.
Cansa-se lenta; e, furiosa,
Mais sofre, mais se arrepela.
E
a aranha, que a fome incita,
Vai
sobre ela.
Um lavrador que passava,
Estende a mão rude e tosca,
Liberta a mísera escrava
Que entre as árvores se some...
E
a aranha, perdendo a mosca,
Morreu de fome.
BANDEIRA, Manuel; AYALA, Walmir (orgs.). Antologia
dos Poetas Brasileiros: Fase da Poesia Moderna: antes do Modernismo / o
Modernismo. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967. p.43-44
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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