Ao julgar-me admirador de atos e fatos históricos, sinto-me imensamente gratificado com o prazer de fornecer dados e opiniões, o mínimo que seja, para quem quiser tomar a si a nobilíssima tarefa de escrever a história da terra que me serviu de berço. Ambiciono apenas glórias para o Acre.
É de suma importância manter-se acesa a chama da história acreana, pelo fato de, conforme é reconhecido por Lews Munford, “ela é contemporânea, e nada talvez mais contemporâneo do que aquelas partes ocultas do passado, que ainda sobrevivem sem que tomemos conhecimento de seu impacto cotidiano”.
Por não se contentar na repetição da história dos demais, o historiador, levado por seu espírito de pesquisa, invade bibliotecas adentro e faz de tudo para chegar às origens da verdade. Com referência à Amazônia assim o fizeram o professor Arthur Cezar Ferreira Reis, Craveiro Costa, Cláudio de Araújo Lima, Ferreira Sobrinho, Leandro Tocantins... Todos, sobretudo por serem amazônidas, com dedicação exclusiva à questão do Acre.
Ao lê-los atentamente fica-se com a impressão de que o Acre, em relação ao Brasil, era como uma criança rejeitada pelo pai que a doou ao vizinho, inclusive de papel passado (acordo de Ayacucho – 1867). A criança já havia adquirido e enraizado a cultura do pai (Brasil), sua língua nativa de sotaques variados, seus costumes diversificados (comidas, danças, espiritualidade, anedotário, vestuário, etc.), há um bom tempo, revestida do mais puro sentimento de orgulho, acomodado em seu âmago. O vizinho, a princípio acordou, projetou, planejou ficar com a criança e até dramatizou resistência mortífera em perdê-la. E o pai... simplesmente alheio ao processo.
A história do Acre merece ser mais difundida, para atingir a correta interpretação pela inteligência brasileira, equivocada, ainda, em grande parte, de compreensões sobre o original processo de incorporação do Acre ao Brasil.
Em linhas gerais, os nordestinos, sobretudo os cearenses, mais os amazonenses, paraenses e maranhenses apenas repetiram feitos dos bandeirantes, nos séculos XVII e XVIII, não obstante o Tratado de Tordesilhas, inicialmente com o objetivo de caçar e apresar índios, posteriormente com interesses extrativistas minerais e vegetais. E nessa de exploração do ouro, há mais de cem anos antes (1722) do tal acordo de Ayacucho (1867) já havia registro de brasileiros cercando a área acreana, ao atingir o Madeira e o Guaporé. Não havia nada de boliviano. A preocupação das autoridades portuguesas, nessa época, era interceptar a marcha dos espanhóis, que também utilizavam jesuítas para fundar missões.
A exploração das florestas ocidentais do continente sul-americano ocorria simultaneamente em busca do eldorado.
Isso foi-se tornando um paraíso que atraia e seduzia inúmeros aventureiros, portugueses, brasileiros, espanhóis e inclusive holandeses dispostos a explorá-lo, ou até mesmo meramente conhecê-lo, a exemplo do grande médico-cientista Esperidião de Queiroz Lima, que desde tenra idade ambicionava embrenhar-se na selva, tanto para pesquisá-la como para nela viver, satisfazendo seu seduzido espírito aventuroso, o que na realidade ocorreu.
* José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano. Escreve o blog FELICIDACRE.
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