Profª. Luísa
Lessa
O professor e filósofo da University of Cambridge, Ludwig Wittgenstein,
diz que “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Numa
versão metafórica pode-se afirmar que ‘as perguntas que fazemos apontam o
ribeirão onde desejamos beber’. Com essas palavras deseja-se dizer que os
educadores precisam refletir, sempre, sobre as necessidades dos alunos, as
perguntas mais simples que fazem em sala de aula. Afinal, essas perguntas
revelam o mundo de cada ser que se coloca diante do professor, esse grande
educador do mundo. As perguntas revelam a sede de conhecimento dos alunos.
Assim, também, revelam a arte de ensinar e a arte de aprender.
Entre a arte de ensinar e a arte de aprender existe uma grande diferença,
não obstante acharem-se ambas intimamente entrelaçadas. Em geral, quem começa a
aprender o faz sem saber por quê. Inicialmente pensa ser por necessidade, por
uma exigência dos pais, da sociedade, por um desejo de muitas outras coisas às
quais costumam atribuir esses porquês. Mas quando já começa a vincular-se
àquilo que aprende, vai despertando na pessoa interesse e, ao mesmo tempo,
reanimam-se as fibras adormecidas da alma, que começa a buscar, chamando ao
estudo, gerando os estímulos que irão criar a capacidade de aprender.
Os mundos dos estudantes são imensos! Sua sede não se mata bebendo a água
de um mesmo ribeirão! Querem águas de rios, lagos, lagoas, fontes, minas,
chuva, poças d’água. Enquanto as respostas dos professores revelam, muitas
vezes, as águas que perderam a curiosidade, as águas do ribeirão conhecido,
comumente a repetição da mesma trilha batida que leva ao mesmo lugar. É preciso
atrair o aluno, despertá-lo para o novo, para o mundo, mostrar que a vida
oferece milhões de lições, que eles saibam escolher as melhores. Motivá-los a
isso, a empreender viagens pelos livros. O professor é o mediador entre o
conhecimento e a aprendizagem.
Todavia, não se pode perder de vista que ensinar é antes de tudo um ato
de AMOR. Pois toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência
afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O
pensamento nasce do afeto, nasce da fome. E esse afeto não é dar beijinhos,
fazer carinho. Afeto, do latim affetare, quer dizer ir atrás. O “afeto” é o
movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o eros platônico, a fome
que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Por isso tudo é bom ao professor ouvir seus alunos. É que nas conversas
com eles que se observam os mundos diferentes que se cruzam na sala de aula.
Thomas Mann, no seu livro José do Egito, conta de um diálogo entre José e o
mercador que o comprara para vendê-lo como escravo, no Egito: - “Estamos a um
metro de distância um do outro. E, no entanto, ao seu redor gira um universo do
qual o centro és tu e não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro
sou eu, e não tu”. É fascinante esse diálogo por que traduz mundos distantes
que se aproximam do professor em sala de aula. E ouvir esses mundos é dialogar
com a multiplicidade da vida. É ter oportunidade de deslindar portas, janelas
antes não visitadas ou abertas para o OLHAR atento e sábio do professor.
Diante desse mundo escola/professor/aluno, deixam-se, neste texto, duas
indagações: o que é o que o ser aprende, e para que se aprende? As
respostas não são difíceis. Aprende-se e continua-se aprendendo, adquirindo
hoje um conhecimento e amanhã outro, de igual ou de diversa índole. Primeiro se
aprende para satisfazer às necessidades da vida, tratando de alcançar, por meio
do saber, uma posição, e solucionar ao mesmo tempo muitas das situações que a
própria vida apresenta.
Hoje, raros são os professores que têm prazer de ensinar e se dedicam
aos alunos. Muitos acham que estão perdendo tempo precioso, um tempo em
que poderiam dedicar a escrever artigos, preparar livros, fazer pesquisas. Mas
aquele SER que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas
que estão relacionadas com os seus estudantes – inclusive a si mesmo. Por isso
tudo, espera-se que um dia professores, em suas conversas, falarão menos sobre
os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos,
sobre a construção de um mundo melhor para todos. A EDUCAÇÃO é o único caminho
capaz de moldar vidas, mudar o mundo, torná-lo mais humano e melhor para se
viver.
* A Profª. Luísa Lessa
escreve às quartas-feiras no jornal A Gazeta do Acre. Também assina uma coluna no
site Gosto de Ler.
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