O Projeto Ópera Estúdio, idealizado pelo Departamento de Música da UnB, é um dos empreendimentos que vem logrando sucesso contínuo, desde 2004, enriquecendo sobremaneira a vida cultural da capital da República.
Acadêmicos, professores e demais profissionais da Universidade de Brasília têm, por meio do projeto, adquirido a possibilidade de viver a emoção e o profissionalismo de encenar uma ópera completa e de elevadíssimo nível.
A UnB, com esta iniciativa, tem aproximado o público de uma das mais admiráveis manifestações culturais – o drama musical. Ressalte-se, ainda, que uma das propostas do aludido projeto, é motivar o público em geral, habituando-o a óperas consagradas, tais como Carmen, O Barbeiro de Sevilha, La Bohème, As Bodas de Fígaro, levando-lhes o conhecimento íntimo de autores como Bizet, Rossini, Mozart e Donizetti.
Envolvido no Projeto Ópera Estúdio encontra-se o brilhante acreano Mário Lima Brasil, filho de dona Alaíde e do jornalista Geraldo Brasil, que marcou presença na administração do Acre, como Chefe de Gabinete do então Governador Ruy Lino.
Por pertencer ao “staf” da Universidade de Brasília, com exercício no corpo docente do Departamento de Musica, Mario Brasil é figura integrante do Projeto Ópera Estúdio e, em assim sendo, foi convidado para incluir no repertório, uma de suas mais importantes composições : “AQUIRY – A Luta de um Povo”.
Como afirma o compositor acreano, mais do que inspiração, “AQUIRY – A Luta de um Povo” nasceu de três desejos, isto é, a avidez de comemorar o centenário da Revolução Acreana, o interesse de mostrar a luta dos acreanos contra o imperialismo capitalista que ameaçava instalar-se na Amazônia e a vontade de tornar a Ópera um estimulante “da criação das instituições de música no Estado do Acre”.
Para deleite do público de Brasília, a ópera acreana foi levada a efeito, em reprise, no último dia 21 de fevereiro, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, em evento que contou com grande público, exigente e entusiasmado com a “performance”, protagonizada por elenco formado pela nova geração de cantores líricos da UnB.
O espetáculo, produzido pela professora da Universidade de Brasília, Irene Bentley, com a direção musical de Mário Brasil e direção cênica de Moritz Heinemann, utiliza a música, associada às Artes Cênicas, às Artes Visuais, à Expressão Corporal e à Poesia, como conhecimentos integrados que viabilizam o desenvolvimento do potencial criativo do ser humano.
“AQUIRY – A Luta de um Povo” é uma ópera composta para uma orquestra clássica de doze solistas, corpo lírico de vinte e sete sopranos, nove contraltos, cinco tenores, seis baixos, cinco instrumentistas, além de quatorze bailarinos e oito figurantes.
Trata-se de uma ópera composta em três atos. O primeiro ato refere-se ao navio Rio Afuá aportando no seringal Boa Aventurança, no Acre, trazendo nordestinos para trabalharem no extrativismo da borracha, além de Rodrigo de Carvalho, um dos combatentes da Revolução Acreana.
O segundo ato encena o convite e a aceitação condicionada de Plácido de Castro para comandar o Exército Revolucionário Acreano e o desenrolar da revolução em si, com destaques a focar a primeira derrota sofrida pelos brasileiros, motivada por emboscadas e traições resultantes em fuzilamento do traidor, culminando com a tomada de Puerto Alonso e a rendição dos bolivianos.
O terceiro ato inicia-se com a assinatura do Tratado de Petrópolis, enfocando o desinteresse das autoridades brasileiras, a turbulência política encenada por Autonomistas e Unionistas, as hostilidades contra Plácido de Castro, e finaliza com o assassinato do herói acreano.
No encerramento, o corpo lírico canta a morte traiçoeira de Plácido e enfatiza a promessa daquele povo guerreiro de lutar pelos seus ideais de liberdade.
Mario Brasil é acreano de Rio Branco, radicado em Brasília, onde iniciou seus estudos na UnB. Estudou trompa com Bohumil Med, aperfeiçoando-se em composição e regência com o professor Cláudio Santoro. Estudou Música e Tecnologia na Inglaterra, com Richard Ortton e concluiu o mestrado no Japão, com Kozo Moriyama, na Universidade de Arte de Tóquio, onde dedicou-se ao estudo sobre as influências culturais no instrumento trompa. Ainda em Tóquio teve a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos musicais na Escola Japonesa de Composição, com Minoru Miki, que o influenciou a compor o balé “Cantos em Cantos do Japão”, para orquestra de cinco instrumentos japoneses.
Ainda sob a influência japonesa, Mario Brasil compôs seu segundo balé, denominado “Amazônia, o Último Sonho” e a série “Valsas Amazônicas”.
Atualmente Mario Lima Brasil exerce a atividade de professor da Universidade de Brasília, onde leciona as disciplinas Música Afro-Brasileira na Amazônia, Composição Musical, Etnomusicologia, Educação Musical, Contraponto e Inclusão Social através da Música.
Mario Brasil possui um caráter visivelmente acreano e o reflete, quando revela que sua composição mais notável, a ópera “AQUIRY – A Luta de um Povo”, foi inspirada na “música afro-brasileira na Amazônia, nos modos nordestinos e nos sons da floresta”, o que, indubitavelmente retrata a apaixonante história da Revolução Acreana, uma história recheada de inclemência e bravura, e inundada pelo sangue mais ardente, a circular nas artérias brasileiras.
* José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano. Reside em Brasília, e escreve o Blog FELICIDACRE.
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