quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A CHATA / O PRIMEIRO CENTENÁRIO

Clodomir Monteiro


1877 – Seca de boca aberta
            Gente cheia de fome
            Seringa sobe e desce
            Mata se abre e fecha

            A água mexe

1977 – No corte copo aperta
            O tempo funda o mito
            Leite encurta leito
            Povo perde o centro

            Na praia a proa

1877 – No porto patrão esperto
            Brabo avia a vinda
            Preço sobe e desce
            Gente
Se engana e vende

O sonho tece

1977 – Estiva estica estoque
            O povo estanca seu rio
            A chata vida escorre
            Posse tocaia a bala

            O sangue em terra

1877 – Bem virgem tribo dança
            Canta adoçando açudes
            Correria caçando incha
            Pálido escravo escreve

            Na água o mapa

1977 – Estado empresa invasão
            Paulista tomando terra
            Caboclo tombando pinga
            Queimando gado fazenda

            Borracha apaga

1877 – Nordeste Galvez lenda
            E tratados demarcação
            Castanha caça e pesca
            Mata estala entoperce

            Fumaça cresce

1977 – Empresário bóia-fria
            Gato laçando mateiro
            A trinca no caminhão
            Corrente em cada mão

            De-obra escrava
           
            E longe multi investe
            Grileiro posseiro peão
            Rádio jornal e televisão
            O gado se engorda e desce

            O Acre achata


Poema publicado originalmente in:
Antologia dos Poetas Acreanos 1986. Rio Branco: Fundação Cultural/Casa do Poeta Acreano, 1986. p. 51-53

> Clodomir Monteiro é autor de Derroteiro de Rotinas, Costura Geral Sob Medida e A Sinuca da Olaria. Atualmente preside a Academia Acreana de Letras. Conheça aqui o blog do poeta.

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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