Clodomir Monteiro
1877 – Seca de boca aberta
Gente
cheia de fome
Seringa
sobe e desce
Mata
se abre e fecha
A
água mexe
1977 – No corte copo aperta
O
tempo funda o mito
Leite
encurta leito
Povo
perde o centro
Na
praia a proa
1877 – No porto patrão esperto
Brabo
avia a vinda
Preço
sobe e desce
Gente
Se engana e vende
O sonho tece
1977 – Estiva estica estoque
O
povo estanca seu rio
A
chata vida escorre
Posse
tocaia a bala
O
sangue em terra
1877 – Bem virgem tribo dança
Canta
adoçando açudes
Correria
caçando incha
Pálido
escravo escreve
Na
água o mapa
1977 – Estado empresa invasão
Paulista
tomando terra
Caboclo
tombando pinga
Queimando
gado fazenda
Borracha
apaga
1877 – Nordeste Galvez lenda
E
tratados demarcação
Castanha
caça e pesca
Mata
estala entoperce
Fumaça
cresce
1977 – Empresário bóia-fria
Gato
laçando mateiro
A
trinca no caminhão
Corrente
em cada mão
De-obra
escrava
E
longe multi investe
Grileiro
posseiro peão
Rádio
jornal e televisão
O
gado se engorda e desce
Poema publicado originalmente in:
Antologia dos Poetas Acreanos 1986. Rio Branco: Fundação Cultural/Casa
do Poeta Acreano, 1986. p. 51-53
> Clodomir Monteiro é autor de Derroteiro de Rotinas, Costura Geral Sob Medida e A Sinuca da Olaria. Atualmente preside a Academia Acreana de Letras. Conheça aqui o blog do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com