Isaac Melo
Segundo a etimologia, Luísa, palavra de
origem germânica, significa “guerreira gloriosa”, “combatente
famosa” ou mesmo “famosa nas batalhas”. Neste caso, vemos como faz jus a seu
nome, a professora Luísa Galvão Lessa, nascida nas cabeceiras do igarapé
Humaitá, afluente do rio Muru, de onde se levava oito dias de barco até atingir
Tarauacá. E nossa guerreira teve que se pôr em marcha, e enfrentar as mais
diversas batalhas. Formou-se em Letras, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado
no Canadá. E pouco a pouco fora se tornando famosa nas batalhas; e mais que
famosa, a guerreira amada. Porque não é a batalha que torna grande o guerreiro;
é antes o guerreiro que faz ser grandiosa e memorável a batalha. E o amor? O
amor fora a arma por excelência dessa guerreira. Amor que brota generoso de seu
coração como água de igarapé, tal como aquele que tanto a banhou. Amor, cuja
expressão, foi, sobretudo, uma vida dedicada à educação. E como fez saber certo
poeta, “a alma vive mais onde ama que no corpo que ela anima”. O educador é um
amante par excellence. Ele não dá a
asa pronta. Ele é o vento necessário que
impulsiona para o voo. Não é o ‘sabedor’, é o desperta ardor. Foi o velho Rui
Barbosa quem disse que um sabedor não é um armário de sabedoria armazenada, mas
transformador reflexivo de aquisições digeridas. Mas, como só o mau artista se
contenta com a obra que faz, a professora Luisa vê seu trabalho como algo
sempre a melhorar. É a primeira crítica do próprio trabalho. Por isso, não se
tornou uma sedentária do saber, mas uma sedenta de saberes e uma peregrina da vida. E é da vida que retira
o seu material de saber, com o qual tece o viver. E, aqui, me faz lembrar aquele
poeta lisboeta: “e os meus versos são eu não poder estoirar de viver”. Seus
textos são extravasamento de vida. Não é um texto para demonstrar erudição,
que, deveras, não lhe falta. É uma professora que ama, que se dá por meio do
que escreve, do que ensina, do que vive.
“Ninguém nunca saberá o quanto custou a
minha jornada: as horas aos estudos, ao silêncio, às conquistas, aos
familiares, às confissões comigo, as perguntas, as decisões, a dor, a solidão,
as renúncias, a separação, as perdas, a saudade, a alegria, as vitórias. São
coisas somente minhas. Eu sei que algumas pessoas nascem póstumas. Não é
o meu caso. Sou uma ribeirinha que conquistou o mundo com muita luta. Nada foi
fácil, muitos espinhos, rios, riachos, montanhas e, também, abismos. Alcancei
vitórias para uma pessoa que nasceu no interior da Floresta Amazônica, onde não
existia rádio, luz elétrica, sem bonecas, brincando de amarelinha, mas leu
muitos livros e por eles empreendeu numerosas viagens. Mas nem por isso eu
estaria em completa contradição se esperasse, hoje, encontrar ouvidos e «mãos»
prontos para as «minhas» verdades. O que hoje ouço de mim é que falta muito
para alcançar, as mãos estão ainda abertas, os olhos atentos para as luzes do
mundo. Minha alma abraça a vida, isso parece-me mesmo normal. Sou uma peregrina
da vida! E nela aprendi que a sabedoria da vida é sempre mais profunda e mais
vasta do que a sabedoria do seres humanos e dos livros. Imannoel Kanta já
dizia, sabiamente que sabedoria das mulheres não é raciocinar, é sentir. Eu
sinto, profundamente, a VIDA!”
Luísa Lessa
Atualmente a professora Luísa
Lessa pertence à Academia Acreana de Letras, à Academia Brasileira de Filologia, e
teve alguns de seus textos adotados pela Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo. Nutro uma profunda admiração pela professora Luísa. Dela retiro a
lição: os grandes homens, as grandes mulheres não nascem prontos. Fazem-se. E
tantas vezes a ferro e fogo. Mesmo que exerça alguma influência, não podemos
fazer do meio e das condições sócio-econômicas desculpas para o fracasso de
nossas vidas. Somos aquilo que podemos ser, que queremos ser e que nos
permitimos ser. Como dizia o nosso geógrafo Milton Santos, os orgãos da inteligência
são dois: o cérebro e a bunda. É sentar, e ler, ler, ler... no
entanto, como nos faz saber Luísa, sem descuidar do amor, “pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade”.
Partilho de tua admiração Isaac, Luíza foi minha colega por muitos anos na UFAC e agora eu a tenho como companheira de Academia Acreana de Letras, onde somos confreiras. Ela é uma pessoa simples e querida, abençoada com uma inteligência invejável e mulher de grande sucesso na carreira. Meus parabéns sempre para ela.
ResponderExcluir