José Moreira
Brandão Castello Branco Sobrinho
excerto de O Juruá Federal
Nem Pedro de
Ursúa, em 1560, nem Juan Palacios e seus companheiros, em 1635, nem o
Capitão-mor Pedro Teixeira, Christoval de Acuña e André de Arrieda, em 1637 e
1639, nem Chandless, em 1867, pisaram terras do Juruá Federal.
O primeiro,
acreditar-se na versão que o dá como transpondo os Andes ou demanda do
Amazonas, via Juruá, saiu do Peru,
alcançando as nascentes do rio Jutaí,
galgou as alturas
que o separam
do vale do Juruá,
atingindo-o nas proximidades
do riozinho Hudson, no Seringal Washington,
onde se conta ter sido assassinado pelos seus companheiros, distante mais de
200 milhas do rio Moa.
Os excursionistas
de 1637 e 1639 ficaram conhecendo as embocaduras do todos os grandes rios que se
lançam no Amazonas, pouco ou quase nada sabendo sobre o curso de cada um deles.
Fernando Denis,
no seu livro Brasil, publicado em
1838, ao tratar dos principais afluentes
do Amazonas, omite
o Juruá e o
Purus dando somente na mesma
direção o Javari, Madeira, Tapajós e
Xingu, porque nesse tempo o Juruá era tido como de pouca importância. Esta
suposição é confirmada pelo padre Constantino Tastevin, na monografia O Rio Juruá, publicada em 1920, na La Géographie, de Paris, em que afirma
que os portugueses nunca pensaram em se estabelecer no Juruá, que até
Chandless, passava por ser menos importante que o Jutaí. Dava-se um curso de
uns 1.000 quilômetros, ou seja, menos de um terço de sua verdadeira extensão,
parecendo, assim, que se o não conhecia além de Urubu, cachoeira no vale do
Chiruan.
O geógrafo
Chandless, que explorou mais da metade do Juruá, cerca de
1.260 milhas, não
alcançou o Ipixuna,
voltando do seringal Ouro Preto, 80 milhas abaixo da foz
do Moa.
O padre José
Monteiro de Noronha, em 1768, e Castelnau,
em 1847, que aludem a índios de cauda, filhos de índias com macacos coatás, nas
proximidades da barra do Juruá e numa cachoeira do mesmo rio, não ultrapassaram
o seu curso inferior.
Em 1854, diz João
Wilkens de Mattos, secretário do governo da província do Amazonas, num
relatório apresentado ao Presidente Herculano Penna, que após uma viagem de 40
dias, em canoa, se chegava à boca do Parauacu, hoje Tarauacá. Ainda o mesmo
Wilkens, em 1858, na qualidade de diretor de terras, informa a existência de
silvícolas aldeados até o lugar Xué, no Baixo Juruá.
Os missionários
que estiveram em contacto com os gentios e os coletores de drogas “que
precederam os regatões, não iam muito além da boca do Tarauacá, receosos dos
assaltos dos indígenas”.
Chandless que, em
1867, aproximou-se da fronteira do território com o
Estado do Amazonas,
refere ter sido antecedido
pelo brasileiro João da Cunha Corrêa,
o qual lhe dissera que havia subido o Tarauacá, daí passando ao Envira, donde
varou para o Purus.
Esta narrativa é
comprovada pelo testemunho de Guilherme da Cunha Corrêa, ainda vivo e
proprietário do seringal Concórdia, no Baixo Juruá, filho do referido João da
Cunha Corrêa, que era natural de Cametá, Estado do Pará.
Acrescenta o dito
Guilherme que seu pai fora nomeado diretor dos índios do rio Juruá, entre 1855
e 1857, na administração do Dr. Antônio Ferreira do Amaral, época em que
cometiam a Manoel Urbano da Encarnação idêntico encargo no rio Purus, e nesse
caráter fizera uma demorada viagem pelo Juruá, colhendo alguns produtos da
região e distribuindo pelos indígenas grande quantidade de machados, terçados,
facas, miçangas e fazendas, conseguindo alcançar a foz do rio Juruá-mirim,
muitas milhas além da fronteira da Zona Estadual com a Federal.
Nunca hostilizaram
os silvícolas. De quem soube granjear amizade e confiança, tendo eles, apenas,
no estirão dos Nauas, se retirado de suas tabas para a margem oposta do rio.
Nessa viagem, João
da Cunha Corrêa, apanhou uma índia velha com
duas filhas, que foram conduzidas a Tefé,
sendo depois batizadas pelo padre Torquato Antônio
Ribeiro, de Fonte-Boa.
Regressando do Juruá-mirim, o
denodado bandeirante subiu o rio Tarauacá, penetrou no Envira, alcançou o vale
do Purus, num de seus afluentes, denominado, hoje, segundo parece, Chandless. Aí
procurou Manoel Urbano, conhecido pelos indígenas por “tapaúna catu” (o preto
bom), e como não o encontrasse por ter subido
o Purus, Corrêa voltou ao Tefé, levando em sua companhia uma outra índia, que
lhe dera um “tuchaua”, a qual foi batizada com o nome de Leocadia, e faleceu em
1912. Era quase branca, de rosto oval e bem conformado, estatura mediana, nariz
pequeno e aquilino.
Esta viagem de
João Corrêa, ao Alto Juruá, por essa época e de certo modo confirmada pelo
pernambucano Serafim Salgado, na sua exploração ao rio Purus, em 1857, quando
assevera que os índios “Cucumas” lhe declinaram nomes dos brasileiros
civilizados que viram nas cabeceiras do Juruá.
Assim, não padece
dúvida que o destemido sertanista foi quem primeiro transitou terras do Juruá
Federal, na qualidade de diretor dos silvícolas.
Em princípios de
1884, o pernambucano Antônio Marques de Meneses, vulgo “Pernambuco”,
acompanhado de Antônio Torres, Pedro Moita, José Vieira, Manoel Meneses,
Jacinto de Tal e Joaquim Nascimento, aportava ao estirão dos Nauas, donde
voltou, sem demora, por ter sido atacado pelos índios, que lhe deram uma surra.
Em maio do mesmo
ano, aportavam a Manaus, os italianos Henrique Gani, Antônio Brozzo, Domingos
Stulzer, vindos da República Argentina, que ali encontraram os seus
compatriotas Antônio Marcilio e Luiz Paschoal, sócios e proprietários
do seringal New York, no baixo Juruá, nesse tempo pertencente ao Município de
Tefé e hoje ao de São Felipe. A convite
dos últimos, vieram aqueles em sua companhia
para o aludido seringal New York, seguindo depois para o Alto Juruá, em
viagem de exploração, trazendo consigo os cearenses Ismael Galdino da Paixão e
Domingos Pereira de Sousa, que exploraram, em junho seguinte, esse pedaço do
Juruá, que vai do referido estirão dos Nauas à embocadura do Juruá-mirim.
Esses
excursionistas foram os primeiros que exploraram o rio com o fim de o povoarem,
tanto que, pelo caminho, iam deixando sinais de sua passagem, respeitando,
porém, a parte visitada por Pernambuco, somente porque este lhes avisara de que
havia passado por ali e pretendia localizar-se numa terra firme, próxima à foz
do rio Moa, na qual, atualmente, se acha implantada a cidade de Cruzeiro do
Sul.
Encontraram eles
pelas cercanias do rio Moa extensos bananais ou grande numero de índios, que os
iam seguindo com o maior interesse, por terra. No meio do estirão dos Nauas,
justamente no local em que hoje se encontra o barracão do seringal Burityzal,
foram os viajantes a terra, deparando com
uma enorme maloca dos silvícolas
chamados “Nauas”, os quais deram o nome ao dito estirão, e após uma certa
demora, necessária apenas para oferecerem aos aborígines alguns brinquedos ou
outros objetos que lhes despertassem a curiosidade, continuaram sua rota, parando
novamente na extremidade Sul do referido estirão, na terra firme, presentemente
apelidada “Colônia Rodrigues Alves” e aí encontraram novamente muitos índios,
tendo-lhes feito oferecimentos idênticos. Foram, porém, obrigados a fazer fogo
para o ar, a fim de os atemorizar, uma vez que eles tentaram lançar mão de suas
armas, instrumentos esses que os indígenas prestavam muita atenção e pelos
quais se mostravam assaz interessados desde o primeiro encontro na parte central
desse estirão.
Coube aos
italianos a parte do rio que vai do seringal Treze de Maio ao Paraná dos Mouras
e aos brasileiros do Tatajuba ao Juruá-mirim.
Um lustro após, em
1889, outros expedicionários, José Serafim dos
Anjos, vulgo “Tucandeira”, Joaquim Nascimento, José
Raimundo, vulgo “Zé-Grande”, e Antônio Doutor, Francisco Barraqueiro e Norberto
de Tal, sob a direção de Francisco Xavier Palhano, foram do Juruá-mirim até
Flora, numa canoa chamada “Fura Mundo”, que partiu do porto de Redenção, de
Bernardo Costa, próximo ao rio Liberdade, por conta de quem faziam a
exploração, não podendo ir além por ter sido ferido Antônio Doutor. No ano
seguinte (1890), o mesmo Francisco Xavier Palhano partiu do dito porto de
Redenção, em companhia de
José Tucandeira, Francisco de Oliveira Lima, vulgo “Lagartixa”, João
Facundo da Costa, Antônio Ramalho, Joaquim Nascimento e Conrado de Tal,
chegando a explorar de Tanaré a Minas Gerais, tendo sido flechado Antônio
Ramalho e João Facundo, numa sapopema que fica num sacado abaixo do Triunfo,
depois de uma grande luta com os índios Capanauas. Subiram depois, mas no mesmo
ano, o português Antônio Granjeiro, que deu nome ao Tejo, João Pereira
dos Anjos, Francisco
Agostinho, Antônio Poeta
e o referido Francisco Xavier Palhano,
que exploraram da boca do Tejo ao Breu. Doze brasileiros, entre os quais
Valdevino José de Oliveira, ainda vivo e residente em Pirapora, Manoel Tomás,
José Tucandeira, Maximino Rodrigues, Francisco de Oliveira Lima, vulgo
“Lagartixa” ou “Galo”, Antônio Luiz de
Andrade, João Dourado,
Antônio Rocha e Francisco Barreto,
exploraram o Juruá do rio Breu até perto de cem praias acima da foz do rio
Vacapistéa, o que não tem grande importância para o nosso trabalho, mas citamos
para mostrar que os nacionais foram muito além do território brasileiro, pelo
Tratado de Petrópolis, sem topar com os peruanos.
Em 1888, o Moa era
desvendado de sua barra até o seringal denominado São José, por Joaquim Barros
Rego, Manoel Mendes de Matos, Francisco Teobaldo de Melo e Amaro Teobaldo de
Melo, José Merouca, João Veríssimo, José Batista de Lima e Antônio Xavier Moreira. Deste ponto em diante, foram seus
investigadores João Batista de Lima, Rufino José da Silva, José Alves da Silva,
Miguel de Almeida, Francisco José de Melo, Joaquim de Barros Rego, Sebastião
Costa, Luiz Monteiro, Joaquim Tomás da Rocha, Amaro Teobaldo de Melo, Francisco
Teobaldo de Melo e Vicente Ferreira Lima, em épocas diversas. O rio Azul ou
Breguesso, afluente do Moa, foi explorado em 1893 por Joaquim Tomás da Rocha,
Francisco e Amaro Teobaldo de Melo, Raimundo Cláudio, Francisco das Chagas
Moreira e José Alexandre.
O Juruá-mirim foi
explorado por Ismael Galdino da Paixão, Joaquim Correia de Oliveira, Francisco
Albuquerque (da firma Cohen & Albuquerque), Manoel Martins, Manoel Felipe,
José Joaquim e Boaventura de Tal.
O Tejo, de sua foz
até Restauração, em 1890, teve como exploradores José Joaquim
de Lima, Francisco Lagartixa, Manoel Tomás, Antônio Peixoto, Francisco Ferre, João Dourado e Vicente Venâncio de Almeida. Mais tarde Manoel Patrício, André Lopes e Mariano de Barros percorreram o resto do Tejo e o riozinho das Duas Bocas, importante afluente de sua margem direita.
de Lima, Francisco Lagartixa, Manoel Tomás, Antônio Peixoto, Francisco Ferre, João Dourado e Vicente Venâncio de Almeida. Mais tarde Manoel Patrício, André Lopes e Mariano de Barros percorreram o resto do Tejo e o riozinho das Duas Bocas, importante afluente de sua margem direita.
O alto rio
Liberdade teve como principal explorador, em 1894, Pedro Juvêncio Barroso.
Esses descobridores
do Juruá, à medida que iam subindo, reservaram um certa quantidade de praias
para cada um, assinalando as extremas de um e outro lado da exploração com um
pequeno roçado e deixavam uma taboleta com os nomes dos respectivos donos.
SOBRINHO,
José Moreira Brandão Castello Branco. O Juruá Federal (Território do Acre). Rio
de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930. p.591-595
Raridades devem ser apreciadas, principalmente quando relatam percurso de corajosos desbravadores na imensa Amazônia.
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