João de Jesus Paes Loureiro
Quem comanda o rio ?
O mito ?
A
lei ?
A
lenda ?
Onde perdeu-se o mapa,
o portulano ?
Em que meridiano, norte ou sul,
ou em que polo?
Amazônia
Amazônia
Quem
te ama ?
Quantas vezes, no tempo, o rio encheu-se,
e, quantas outras, vazou ?
O rio não tem consciência
de si mesmo,
no ermo de existir
que
é ser corrente.
O rio-em-si não é nem bom, nem mau.
É rio.
E sendo rio
inunda
e seca,
pois inundar e secar
é o ser do rio
e sua incons/ciência de si mesmo.
A notícia ovula-se poema,
e nem se quer
ou canto
ou
melopéia.
Quer olhar e dar voz ao que se mostra,
mais que real aqui, agora e sempre...
Mas Tirésias atônito pergunta
aos pálidos pajés sobreviventes:
– “Se o rio nada sabe de si mesmo,
quem saberá do rio e de seus homens ?”
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Porantim (poemas amazônicos). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p.37-38
> João de Jesus Paes Loureiro é um dos principais poetas da Amazônia. Nasceu
em Abaetetuba, no Estado do Pará. Professor de Estética, História da Arte
e Cultura Amazônica, na Universidade Federal do Pará. Mestre em Teoria da
Literatura e Semiótica (PUC/UNICAMP) e Doutor em Sociologia da Cultura
pela Sorbonne, Paris, França.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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