Matias Aires (1705-1763)
Sendo o termo da vida limitado, não tem
limite a nossa vaidade; porque dura mais do que nós mesmos, e se introduz nos
aparatos últimos da morte. Que maior prova do que a fábrica de um elevado
mausoléu? No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para a
com a fé dos mármores, fazerem seus nomes imortais: querem que a suntuosidade
do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fossem relíquias as suas cinzas,
e que corra por conta dos jaspes a continuação do respeito. Que frívolo
cuidado! Esse triste resto daquilo que foi homem já parece um ídolo colocado em
breve mas soberbo domicílio, que a vaidade edificou para a habitação de uma
cinza fria, e desta declara a inscrição o nome e a grandeza. A vaidade até se
estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.
AIRES, Matias. Reflexões sobre a vaidade dos
homens. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. p.23
> Matias Aires Ramos da Silva de Eça nasceu em São Paulo e faleceu em
Lisboa. É o mais importante filósofo brasileiro do século XVIII, e um dos únicos.
De grande erudição, estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, depois em
Madri, Baiona e na Sorbonne, em Paris. É considerado o primeiro moralista de nossa
história literária.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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