Darcy, Milton, Florestan e Josué de Castro são pensadores brasileiros
que me instigam bastante. Quando li Geografia
da Fome fiquei impressionado. Primeira vez no Brasil o problema da fome
sendo levado a sério. Josué de Castro hoje parece ser um pensador esquecido. Nas
escolas, nas universidades, nos meios de comunicação nada mais se fala sobre
ele. Todo mundo se liga mesmo é na bunda das panicats. O nome de Josué de
Castro está ligado ao combate da fome no Brasil, e depois, no mundo, quando
assumiu a FAO. Será que a fome está superada? Este silêncio, será o da covardia?
Selecionei a seguir um trecho em que ele desmitificava as causas da fome no
Nordeste, sobretudo na área de sertão.
Pelo Brasil afora se tem a ideia apressada e
simplista de que o fenômeno da fome no Nordeste é produto exclusivo da irregularidade
e inclemência de seu clima. De que tudo é causado pelas secas que
periodicamente desorganizam a economia da região. Nada mais longe da verdade. Nem
todo o Nordeste é seco, nem a seca é tudo, mesmo nas áreas do sertão. Há tempos
que nos batemos para demonstrar, para incutir na consciência nacional o fato de
que a seca não é o principal fator da pobreza ou da fome nordestinas. Que é
apenas um fator de agravamento agudo desta situação cujas causas são outras.
São causas ligadas ao arcabouço social do que aos acidentes naturais, às
condições ou bases físicas da região.
Muito mais do que a seca, o que acarreta a
fome no Nordeste é o pauperismo generalizado, a proletarização progressiva de
suas populações, cuja produtividade é mínima e está longe de permitir a
formação de quaisquer reservas com que seja possível enfrentar os períodos de
escassez – os anos das vacas magras, mesmo que no Nordeste já não há anos de
vacas gordas. Tudo é pobreza, é magreza, é miséria relativa ou absoluta,
segundo chova ou não chova no sertão. Sem reservas alimentares e sem poder
aquisitivo para adquirir os alimentos nas épocas de carestia, o sertanejo não
tem defesa e cai irremediavelmente nas garras da fome. (p.242)
(...)
A luta contra a fome no Nordeste não deve,
pois, ser encarada em termos simplistas de luta contra a seca, muito menos de
luta contra os efeitos da seca. Mas de luta contra o subdesenvolvimento em todo
o seu complexo regional, expressão da monocultura e do latifúndio, do
feudalismo agrário e da subcapitalização na exploração dos recursos naturais da
região. (p.243)
A meu ver todo o sistema de fatores negativos
que entravam as forças produtivas da região são oriundos da arcaica estrutura
agrária aí reinante. Todas as medidas e iniciativas não passarão de paliativos
para lutar contra a fome, enquanto não se proceder a uma reforma agrária
racional que liberte as suas populações da servidão da terra, pondo a terra a
serviço de suas necessidades. (p.244)
CASTRO, Josué de. Geografia da fome (dilema brasileiro: pão ou aço). Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. (A primeira edição do livro é de 1946)
E o dinheiro da SUDENE?
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