domingo, 1 de dezembro de 2013

A FOGUEIRA

Astrid Cabral


Em dezembro, sonhar com janeiro,
em janeiro pensar: fevereiro
vai ser bem diferente
A semana inteira chocar o sábado,
no sábado, esperar o domingo.
No domingo dizer: no outro, quem sabe?
O tempo todo apoiar-se na bengala
da ilusão, a preferir a cegueira
à visão do abismo.

Cansei-me da farsa.
Fiz uma fogueira, joguei
a esperança dentro dela
e arregalei os olhos. 


CABRAL, Astrid. De déu em déu: poemas reunidos (1979/1994). Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998. p.37

> Astrid Cabral poeta brasileira nascida em Manaus. Possui uma ampla obra, entre as quais, Alameda (1963), Ponto de cruz (1979), Torna-viagem (1981), Visgo da terra (1986), Rês desgarrada (1994), Ante-sala (2007).

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