Prof.a Inês
Lacerda Araújo
A morte prematura de um
ex-aluno meu, motivou esta postagem. A dor e o vazio da perda são pessoais,
intransferíveis, causam perplexidade, espantam pelo fato de alguém estar aqui e
subitamente, inevitavelmente e eternamente se ausentarem.
A morte, se isso serve de
consolo, para Sócrates não é temível e nem terrível:
"Morrer é uma dessas duas coisas, diz ele:
ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa alguma, ou
então, como se costuma dizer, trata-se de uma mudança, uma emigração da alma,
do lugar deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um
sono (...), que maravilhosa vantagem seria a morte!" E se houver o
encontro com os que já se foram, prossegue Sócrates, "que maior bem
haveria que esse?"
Somos finitos? O que há em
nós de infinito ou imortal?
"Em que disposições de
corpo e de alma devemos aguardar que a morte nos surpreenda; a brevidade da
vida, a imensidade do tempo antes de nós e depois de nós, a debilidade de toda
matéria" (Marco Aurélio).
Pascal, mesmo sendo cético,
acha que essa é uma questão inescapável: "não há neste mundo verdadeira e
sólida satisfação, nossos prazeres são puras vaidades, nossos males infinitos e
a morte nos ameaça a cada instante (...) Eis o fim que espera a mais bela vida
do mundo. Que se medite nisso: se não é indubitável que não há outro bem nesta
vida senão o da esperança em outra vida".
Nada há em nós de infinito
ou imortal para os filósofos da existência. Esta acaba, e fim. Para Heidegger
há os que "esquecem" disso, vivem como se fossem eternos, e os que
aceitam o fato de morrer e mais, vivem sabendo que vão morrer;
"da-sein", ser aí, neste nosso mundo, mortais, ser-para-a-morte. O
que não significa passividade nem negação, mas afirmação do valor da vida, por paradoxal
que isso possa parecer.
O ser humano não só vive no
tempo, ele vive também temporalmente, o tempo o constitui.
Temporalidade implica
começo, meio e fim.
Filosofar pode consolar.
O tempo se torna fator
decisivo nas mortes acidentais, como a que levou João Paulo. Um segundo de
desatenção e os fabulosos engenhos da humanidade matam. Uma arma, um meio de
transporte, uma falha mecânica, e tantos outros fatores...
Difícil aceitar, difícil
acreditar...
* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.
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