segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

REFLEXÕES SOBRE A MORTE

Prof.a Inês Lacerda Araújo


A morte prematura de um ex-aluno meu, motivou esta postagem. A dor e o vazio da perda são pessoais, intransferíveis, causam perplexidade, espantam pelo fato de alguém estar aqui e subitamente, inevitavelmente e eternamente se ausentarem.

A morte, se isso serve de consolo, para Sócrates não é temível e nem  terrível: 

"Morrer é uma dessas duas coisas, diz ele: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa alguma, ou então, como se costuma dizer, trata-se de uma mudança, uma emigração da alma, do lugar deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono (...), que maravilhosa vantagem seria a morte!" E se houver o encontro com os que já se foram, prossegue Sócrates, "que maior bem haveria que esse?"

Somos finitos? O que há em nós de infinito ou imortal?

"Em que disposições de corpo e de alma devemos aguardar que a morte nos surpreenda; a brevidade da vida, a imensidade do tempo antes de nós e depois de nós, a debilidade de toda matéria" (Marco Aurélio).

Pascal, mesmo sendo cético, acha que essa é uma questão inescapável: "não há neste mundo verdadeira e sólida satisfação, nossos prazeres são puras vaidades, nossos males infinitos e a morte nos ameaça a cada instante (...) Eis o fim que espera a mais bela vida do mundo. Que se medite nisso: se não é indubitável que não há outro bem nesta vida senão o da esperança em outra vida".

Nada há em nós de infinito ou imortal para os filósofos da existência. Esta acaba, e fim. Para Heidegger há os que "esquecem" disso, vivem como se fossem eternos, e os que aceitam o fato de morrer e mais, vivem sabendo que vão morrer; "da-sein", ser aí, neste nosso mundo, mortais, ser-para-a-morte. O que não significa passividade nem negação, mas afirmação do valor da vida, por paradoxal que isso possa parecer.

O ser humano não só vive no tempo, ele vive também temporalmente, o tempo o constitui. 

Temporalidade implica começo, meio e fim.

Filosofar pode consolar.

O tempo se torna fator decisivo nas mortes acidentais, como a que levou João Paulo. Um segundo de desatenção e os fabulosos engenhos da humanidade matam. Uma arma, um meio de transporte, uma falha mecânica, e tantos outros fatores... 

Difícil aceitar, difícil acreditar...


INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.

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