O
MONÓLOGO DO ZIGOTO
José Lopes Marques
É o Beta evidência do meu ser,
José Lopes Marques
É o Beta evidência do meu ser,
Neste mundo estou e dele ausente,
E o líquido amniótico envolvente,
Minha metamorfose a tecer
O meu grito ainda é tão silente,
Mas sou eloquente em meu dizer,
Tenho o véu placentário a me
envolver
E nutrindo meu ser constantemente.
Sou a parte que ao todo contraria,
Meu crepúsculo vital e inquieto,
Tem na plena potência o seu guia.
Desconheço o nome predileto,
Mas sou batizado a cada dia
Por ovo-zigoto, embrião, feto.
Dedicado ao meu filho Tomás quando ele era ainda uma
minúscula centelha da existência confinada ao ventre materno. Belém-PA, maio de
2007.
***
É o tocar da última melodia,
pálido som da triste carpideira,
pranteando a viagem derradeira
e a entrega do corpo à cama fria.
Os sentidos entregues à cegueira,
pois a lira imponente silencia,
sol fulgente descansa ao fim do dia,
na antítese da sensação primeira.
Já se faz o mover petrificado,
rio venoso do corpo ‘se evapora’,
o intangível penetra o outro lado.
A fatídica e inexorável hora,
traz a morte com seu funéreo fado,
neste instante toda existência chora.
Belém-PA, agosto de 2006.
Belém-PA, agosto de 2006.
> José Lopes Marques é escritor e poeta acreano, nascido em Tarauacá. Formado
em Teologia pelo Seminário Batista do Cariri, em Filosofia pela Universidade Federal
do Pará (UFPA), especialista em Ensino de Filosofia (UFC) e mestrando em
Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. Além disso, é professor de
Filosofia da rede pública do Estado do Ceará e da Faculdade Batista do Cariri. É
autor de Diário de Sonhos do Doutor
Satírico (All Print, 2013).
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