sábado, 1 de fevereiro de 2014

A PALAVRA DO POETA

Jefferson Bessa


"onde estão teus versos, poeta?
me lembro de teus alexandrinos
de teus ritmos, de tuas palavras!
recite um para ouvirmos
canta ao menos um
canta aqueles versos livres,
aqueles altos, dançantes.
pode ser áspero, pode ser úmido
canta, poeta!
onde estão teus versos?"

"meus versos silenciaram
não tenho mais alexandrinos
não tenho mais versos livres
o que escrevo é o silêncio.
as coisas precisam dormir.
não sei cantar, apenas sei falar
mas as palavras nada dizem
vou seguir meu caminho
já usei muitas palavras, preciso ir
outros virão, outros chegarão"

"canta, então, teu silêncio
o silêncio de teus versos acordará a rua 
com o contentamento de ouvir.
nesta rua não temos mais os sinos
ensurdecemos para badalos pesados
nunca mais os ouvimos, pois sempre 
nos levam a lembrar, a lembrar
a lembrar de tudo que nunca fizemos.
canta, agora, para esta rua.
sem palavras tu não és poeta
serás aquele homem que há pouco passou.
lá foi ele, seguindo cabisbaixo e rouco, 
pensativo e mudo.
canta, então, teu silêncio!"

"não, meu amigo, onde a poesia está
o silêncio não pode estar.
o que não diz não é poema
e eu tão cansado de palavras 
me deixei silenciar"

"mas tu não podes esquecer
quando te ouvimos, as palavras cantam
o cansaço provém da tua desconfiança.
canta, homem, diga um verso
e verás que o que se diz se levantará. 
canta! todos os ouvidos,
toda a rua se levantará contente.
que seja um verso de tristeza!
canta, verás que todos se levantam
todos se levantarão como um só
ou com muitos sós.
tua palavra bem queima, bem molha.
a quem deste a tua audição? 
de quem ouviste este engano?
se deixou ouvir alguém sem ouvidos?
o silêncio não vive para ti
vive para alguém como aquele homem
frio e arrogante de palavras
mas tu és poeta
não podes esquecer:
quando na palavra o mundo chega
com simplicidade sabes levantar
pois com o vento estás.
mas tu és poeta
não podes esquecer:
quando tu escreves,
tudo dança"


Acesse aqui a página do ilustre poeta Jefferson Bessa:
leia aqui o livro ‘Nos úmidos planos das mãos’:
http://issuu.com/jedu2/docs/bessa__jefferson_-_nos___midos_plan

Um comentário:

  1. Muito obrigado pela publicação do poema. É um grande prazer poder participar. Vou inserir um link no meu blog.
    Abraço,
    Jefferson.

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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