J. G. de Araújo Jorge (1914-1987)
Não me envergonho nunca de falar de amor!
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Terá vergonha a fonte em murmúrios de festa,
águas claras rolando dentro da floresta
de embalar a flor?
Terá vergonha o pássaro inquieto, sozinho,
de um dia cantar mais, (como todos cantamos...)
– e tecer com gravetos de palha o seu ninho
na altura dos ramos?
Terá vergonha a terra de acordar cheirosa
e inteirinha vibrar ao despontar do dia,
oferecendo ao sol sua boca macia
naquela rosa?
Terá vergonha o mar de acariciar a areia
e oferecer-lhe conchas ao invés de anéis?
E dizer-lhe canções, em que todo se enleia
aos seus pés?
Terá vergonha a noite, que de astros se encheu,
ao pôr o seu vestido imensamente azul
para um baile de luz,
de ostentar o presente que o tempo lhe deu.
o "pendentif" em cruz
do Cruzeiro do Sul?
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Por que razão, portanto, – Ele, o predestinado,
que nasceu para amar com grandeza e esplendor
e trouxe um coração de poeta enamorado
há de sentir pudor?
Eu, por mim, sou feliz, porque amo e sou amado!
Nem me envergonho nunca de falar de amor!
JORGE, J.G. de Araújo. Eterno Motivo. Rio de Janeiro: Vecchi, 1954. p.19-21
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