Machado de Assis (1839-1908)
...Eis aí saiu o que
semeia a semear...
Mt. 13, 3
Vós
os que hoje colheis, por esses campos largos,
O doce fruto e a flor,
Acaso
esquecereis os ásperos e amargos
Tempos do semeador?
Rude
era o chão; agreste e longo aquele dia;
Contudo, esses heróis
Souberam
resistir na afanosa porfia
Aos temporais e aos sóis.
Poucos;
mas a vontade os poucos multiplica,
E a fé, e as orações
Fizeram
transformar a terra pobre em rica
E os centos em milhões.
Nem
somente o labor, mas o perigo, a fome,
O frio, a descalcez,
O
morrer cada dia uma morte sem nome,
O morrê-la, talvez,
Entre
bárbaras mãos, como se fora crime,
Como se fora réu
Quem
lhe ensinara aquela ação pura e sublime
De as levantar ao céu!
Ó
Paulos do sertão! Que dia e que batalha!
Venceste-a; e podeis
Entre
as dobras dormir da secular mortalha;
Vivereis, vivereis!
ASSIS, Machado de. Poesias Completas. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc.
Editores, 1962. p.330-331
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com