João de Jesus Paes Loureiro
Deixem-no nascer.
O leito da indigência
é
boa medida...
Sem leite vai crescer
e sem verduras.
A lama há de lhe dar
por
sob as palafitas
a herança verminosa das marés.
É bom que tenha jeito de sambista.
Escolas não terá
e
nem infância.
E a juventude, melhor que não floresça
pois seu caule de amor
já
foi castrado.
No dia em que sair
de
parceria com a lua
( revólver na cintura
e
decisão no olhar )
o presunto está pronto, temperado.
Embrulhem-no em manchetes policiais
para servi-lo quente
no
café da manhã
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cantares
amazônicos. São Paulo: Roswitha Kempf, 1985. p.233-234
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JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO é prosador, ensaísta e um dos principais poetas da Amazônia. Nasceu em Abaetetuba, no
Estado do Pará. Professor de
Estética e Arte, doutorou-se em Sociologia da Cultura na Sorbonne, em Paris,
com a tese Cultura amazônica: uma poética do imaginário. Sua obra poética tem
sua universalidade construída a partir de signos do mundo amazônico – cultura,
história, imaginário – propiciando uma cosmovisão e particular leitura do mundo
contemporâneo. Dialogando com as principais fontes e correntes literárias da
atualidade, Paes Loureiro realiza uma obra original, quase uma suma poética de
compreensão sensível do mundo por meio das fontes amazônicas, em que o mito se
revela como metáfora do real.
> Visite aqui a página do poeta.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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