Inês Lacerda Araújo
Uma das mais fundamentais e remotas
necessidades da humanidade foi o culto aos deuses, às forças naturais, às
manifestações misteriosas. Aos poucos os sacrifícios prestados a tais elementos
a fim de restaurar o equilíbrio e apaziguar inimigos, foi sendo alçado a um
nível superior, o de um só ser, absoluto, transcendente, todo-poderoso, numa
palavra, Deus.
O monoteísmo prevalece na maioria das
religiões, e, por sua vez, as religiões se mantêm firmes e influentes, mesmo
nas atuais culturas e sociedades. Podem levar a barbarismos como certo
"islamismo" radical, caso do grupo terrorista que sequestrou meninas
na Nigéria, o Boko Haram, sob o pretexto absurdo de que meninas não podem ir à
escola!!!, a guerras, espalhar morte e ódio.
São exceções, pois religiões podem e devem
cumprir outras funções, levar à paz, espalhar solidariedade, ajuda humanitária,
conforto interior. E esse é o papel esperado das diversas crenças religiosas,
fiéis seguem seus preceitos, oram, encontram nos textos sagrados a verdade
revelada e por isso mesmo, incontestável.
A fé é uma das dimensões da vida
humana, outros produtos culturais não a substituem pois apenas religiões levam
ao encontro com o sagrado e o divino, além do humano. Não é preciso provar
nada, e sim vivenciar a crença.
Por isso mesmo, não faz sentido algum obrigar
alguém a crer e nem impor uma religião. Infelizmente, há muita manipulação e
forte indução em certas seitas, mas sempre cabe à pessoa aceitar ou não esse
tipo de pressão.
Por todas essas razões, a ciência não pode
ser posta no lugar da crença em entes superiores e divinos, muito menos o
inverso, crer em vez de conhecer.
Revelação e prova científica são antípodas,
inteiramente diversas, uma não pode substituir a outra.
A ciência requer um tipo de conhecimento que,
inclusive, não é uniforme, há tipos de ciência, a biológica (Biologia,
Medicina), a natural (Física, Química), as ciências humanas e sociais
(História, Sociologia), as da comunicação, as da informação, as matemáticas, a
Economia. É preciso haver pesquisa, resultados, métodos, verificação,
publicidade nos resultados, uma linguagem tradutível por meio de cálculos,
símbolos, estatísticas, provas laboratoriais. As ciências progridem e estão em
constante mudança. Podem também produzir guerra, morticínio, devastações, como
a bomba nuclear, experimentos com vacinas e medicamentos (nazistas com os
judeus e laboratórios nos EUA com negros).
A teoria da evolução de Darwin, a teoria da
relatividade de Einstein, as concepções de que somos feitos de células,
organismos que evoluíram, que somos dotados de um psiquismo, neurônios,
sinapses, enfim, que há um universo em expansão e que nosso organismo e nosso
cérebro são objeto de pesquisa e que há muito, muito mesmo ainda desconhecido -
tudo isso é matéria de ensino, ciência, pesquisa.
Não há impedimento algum e nem
incompatibilidade com religião alguma, ensinar princípios, métodos e resultados
das ciências, em níveis que acompanham os graus de compreensão dos alunos.
É possível e condizente com a educação, os
alunos ficarem cientes de que há tipos de questionamento. Um questionamento
sobre nossa origem pode ser respondido por meio de verdade revelada (o
professor expõe para a criança ou para o jovem certo tipo de fé ou de
religião), e por meio de ciência em constante mudança com novas teorias, com
novos instrumentos e novas necessidades sociais e econômicas.
Educar é alargar horizontes, esclarecer,
instruir, informar e, principalmente, formar pessoas responsáveis, abertas,
livres para pensar e decidir.
Nietzsche em Humano, demasiado humano escreve:
Aforismo 128: Promessas da ciência
“A ciência moderna pretende diminuir a dor
tanto quanto possível, uma vida tão longa quanto possível, isto é, um tipo de
felicidade eterna, muito modesta, é fato, em comparação com as promessas da
religião”.
Essa reflexão, extremamente crítica,
infelizmente não é feita nem na escola, nem pelas religiões.
* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.
* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.
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