domingo, 22 de junho de 2014

MORRE ROSE MARIE MURARO

Rogel Samuel

Conheci Rose através de Nathanael Caixeiro, tradutor da Vozes, já falecido.

Fomos amigos durante muitos anos, viajamos juntos, éramos parceiros de eventos e jantares.

Conheci a sua família e ela conheceu a minha. Minha mãe gostava muito dela. Jogávamos cartas.

Devo a ela a publicação do meu “Manual de teoria literária” (que teve 17 edições), e de “Literatura básica”.

Graças a ela conheci pessoas: Frei Beto, Boff, Djanira, Ligia Fagundes, etc. Assim conheci Umberto Eco, com quem passamos a noite toda na varanda da casa de Mônica Rector discutindo a construção de romance... Ele se estava preparando para escrever “O nome da rosa”.

Rose era surpreendente, superdotada, superinteligente. Mas simples. Escritora extraordinária. Ativista. Humana e corajosa. Bateu de frente com a ditadura. Teve livros cassados. Eu presenciei Rose espinafrando de cara um ministro da ditadura, na frente de todo mundo, num evento dentro da revista Manchete (ele logo se afastou, escondendo-se na multidão).

Mesmo quase cega, ela viajava constantemente, proferindo palestras, fazendo conferências doutrinárias.

Podemos dizer que, além de feminista, ela era uma pensadora original, tinha idéias próprias e praticamente criou o feminismo no Brasil. Quando diante de algum medalhão internacional famoso, ela o enfrentava.

Deu aulas em Universidades americanas, onde era muito respeitada.

Seus artigos demandam publicação.

Mas foi Rose mulher bem humorada e vitoriosa.

Em plena ditadura, eu me formei politicamente ouvindo Rose Marie Muraro.


* Artigo publicado na página de Rogel Samuel.

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