Um pouco da poesia do acreano de “Benjamins”
(Senador Guiomard) Renã Leite Pontes, que é um dos exímios poetas acreanos, já
com um importante trabalho difundido no Acre e além fronteiras. Além disso,
Renã Pontes é membro Vitalício da International Writers end Artists Association
– IWA, Toledo, Ohio, USA; membro Honorário do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais
– IMBRASCI, RJ; membro Fundador da Academia dos Poetas Acreanos; e professor de
Educação Física, no Acre. Conheça a página do poeta CÂNTICOS DO ACRE.
PANO–ARUAQUES
Renã Leite Pontes
“O amor é um fogo na carne do
boi.”
Renã Pontes
A esplanada treme
E treme a terra,
A ação da mão enérgica,
Guerreira...
Um movimento brusco,
Freia o corcel negro,
Chacoalha as zarabatanas, as flechas,
E os demais aparatos de guerra.
Ao parar o bravo
Freiam seus exércitos,
Bufam mil cavalos,
Rangem seus arreios
(De couro arredio).
Legiões de guerreiros
Levanta poeira.
No meio das Legiões de Aruaques,
Comitivas da nação Pano,
E outros que aguardavam...
Destaca-se a mais bela:
Lábios de carmim,
Pernas de gazela,
Graça de felina,
A atenta contemplada
de beleza nua,
Tão linda que espalhou morte a mil
guerreiros,
Pelo direito aos beijos da madrugada,
Pelo encosto ao pedestal do peito
Da cunhatã que é irmã da lua.
Os olhos do bravo
A nada mais veem
A ninguém mais veem,
Mas, somente a ela,
Tão somente a bela,
Vestida de palhas.
Núbil dama, em tenra idade,
Traz na mão uma flor.
No colo delicado,
O emblema dos valentinianos.
E no coração,
Amor maior
Que o materno...
Sorri tão singela:
Chegou meu amor!
Chegou a vitória!
A erva nativa
Que verdura o dia dos enamorados,
De uma a outra ponta
Está
Atapetada de pétalas,
Forradas de flores,
Perfumada do orvalho.
Soam-se os gritos,
- Bufam seus cavalos -,
Ribombam os bumbos,
Prorrompem os instrumentos de sopro
Saudando a vitória,
Dão brilhos da glória,
Louro merecido.
E logo, todas,
Pequenos e velhos,
Mergulham na história
Da paz pela guerra,
Curvando-se aos atributos,
(Norte – na vitória),
Musa inspiradora
Que desfrutou da honra
Mas depois
Na sombra da barriguda
Amou e pariu curumins
Com febre de malária
E marcas de mordidas de taxi
Naqueles dias quentes de inferno,
A maternal figura, já quase banguela
E cega dos olhos,
Cantando a música do ritual do sol
Sentindo a brisa, desta vez tacanha,
Carregada de “polvo” feito aerossóis.
Expirou
De morte triste de mosquito estranho.
ENTALHE AMAZÔNICO
Renã Leite Pontes
Vou entalhar a golpes de martelo,
na tábua de carvalho da esplanada,
o teu “retrato”, em letra esbranquiçada,
no meu poema mais castiço e belo.
E augusto... O luso mais verde-amarelo,
borda fresada e ricamente ornada.
vou esculpi-lo, na ogival chapada,
com arte sem padrão nem paralelo,
Vou definir-te como és, cem por cento;
depois, num transe de arrebatamento,
imaginar te ver sorrindo inteira.
E envernizando o teu nome encravado,
quero, por fim, amor, meu anjo amado,
deixar-te eternizada na madeira.
JUREMA
Renã Leite Pontes
Ao canto do inhambu que não tem dono,
O másculo das botas do abandono,
Forma a poeira.
Num campo sapecado,
Na casa paxiúba de madeira...
Um corpo abandonado:
Tem quem queira!
Do olho ao queixo
As lágrimas formam o Nilo...
Canta o inhambu, chora a Jurema.
O arulhar da ave que resiste,
O sofrer da mulher, pesado e triste,
A prestação, forma o poema.
O MEDO
Renã Leite Pontes
Lá fora, eles,
Na cinética patológica das ruas
Da infeliz cidade,
O medo:
Do roubo, do atraso, da gripe... do medo.
Cá dentro, eu,
Na estática faustosa do claustro
Da infelicidade,
O medo:
Do outro!...
SAUDADE EM VERSOS BRANCOS
Renã Leite Pontes
Sinto de ti saudade tão sentida,
Como se foras o sol da minha vida.
Se bem que foste, mesmo sem ter sido.
Por isso, ao teu lado penso haver vivido.
Provando os méis das mais doces delícias,
Sorvendo as delícias e carícias mais meigas,
Quando ao despertares, despertava-me a alma,
Com mútuos delírios próprios de quem ama.
Lembro-me dos momentos em que te amei,
conquanto,
Morro de saudades e só saudades sinto.
E guarda o tempo o que eu ainda sinto tanto.
E sinto tanta falta que às vezes me espanto,
Pois vejo na rua, noutra mulher, teu gesto.
Às vezes vejo alguém e penso ver teu rosto.