Regina Amélia D’Alencar Lino
Se vivo fosse, dia 13 de agosto José Ruy da
Silveira Lino estaria completando 90 anos de idade.
Nascido no município acreano de Tarauacá, em
1924, Ruy Lino desfrutara a aurora de
sua vida nas brincadeiras infantis, nas peraltices naturais, divididas
frequentemente com o amiguinho Geraldo Brasil, curiosamente nascido no mesmo
mês, porém em data inversamente grafado à sua (dia 31) e residente na mesma
rua, no número 132, defronte sua residência, de número 231. Ao final da
primeira infância querida Ruy Lino seguira para Manaus, a fim de iniciar seus
primeiros estudos no Colégio Dom Bosco da capital amazonense.
Sentindo despertar a vocação para o trato com
a natureza vegetal e grande atração para lidar com a terra, Ruy Lino optara por
fazer estudos da agricultura, escolhendo a Faculdade de Agronomia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, para desenvolver seu projeto,
passando, também, a ter militância na política estudantil, com participação
ativa na União Nacional dos Estudantes (UNE).
Concluídos os estudos de nível superior e já
ingresso no quadro de funcionários do Ministério da Agricultura, Ruy Lino
retornara ao Acre, no início da década de 1950, sendo lotado no setor de
Fomento Agrícola Federal, divisão representativa daquele ministério.
Tratava-se de órgão responsável pela gestão
das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento do agronegócio
e pela regulação e normatização de serviços vinculados à agricultura. Aos vinte
e seis anos de idade Ruy Lino já desempenhava atribuições de relevadas
responsabilidades, no âmbito federal.
O que Ruy Lino queria, inicialmente, era a
carreira agronômica, seu desejo íntimo... continuar engenheiro agrônomo.
Servir o Acre na república, para Ruy Lino
significava voltar à agronomia, ser engenheiro do Ministério da Agricultura,
cuidar de sua própria terra e de seus conterrâneos – tudo o que ele mais
almejava.
Ruy Lino atendera, enfim, à “paixão humana”,
o interesse vivo, palpitante, absorvente, no destino e na condição alheia,
sobretudo dos pobres e sem suficientes defensores – o que se poderia dizer dos
funcionários do Território do Acre, que recebiam, com contínuos atrasos,
iníquas remunerações, como “extranumerários”. A eles passara a dedicar toda a
vida, através da política, ajudar a sua terra, prestar ombros à sua época.
Constituindo família aos 27 anos de idade,
com os filhos Regina, Beth, Ruy e Ovídio, Ruy Lino tivera na sua esposa zelosa,
admirável e encantadora Niní, a primazia da mulher amada, sustentáculo sólido
e ideal para o desenvolvimento de todos
os seus sonhos e projetos – idealistas e
racionalistas.
Lançara-se, então, à atividade política, sem
prejudicar o tempo empregado à responsabilidade funcional dedicada à burocracia
de sua repartição, vindo a filiar-se ao Partido Trabalhista Brasileiro – PTB,
em cujo programa destacavam-se algumas reformas sociais, tais como a urbana, a
agrária e a da educação.
Assumindo de corpo e alma as lides petebistas
no Acre, Ruy Lino não medira esforços para denunciar e opor-se, de viva voz, às
ocasionais irregularidades administrativas
que ocorriam no Território. De
salientar um incidente ocorrido com seu sogro, chamado ao gabinete do
governador para ouvir, do próprio mandatário na época, a ameaça de espancamento
ao seu genro, em praça pública, caso continuasse a levar a efeito os discursos
denunciatórios. Sentindo-se profundamente ferido com as palavras ameaçadoras, e
super injuriado, o sogro do jovem político, sem nada contestar, retirara-se à
sua residência e, de revólver em punho, retornara ao palácio para pôr termo à
ameaça sofrida, o que, naturalmente não viera a ocorrer, graças e intervenção de
amigos íntimos, ligados a ambos. No dia seguinte, lá estava, em praça pública,
Ruy Lino a denunciar, inflamado, de megafone em mão, o insensato destempero do
governador e suas irregularidades.
Poucos anos depois, mais precisamente em
1961, estando o PTB na presidência da República, Ruy Lino fora nomeado
governador do Território do Acre. Por essa época, encontrava-se aguardando a
sanção do presidente, a Lei que elevaria o Acre à categoria de Estado, cujo
projeto já tramitava há quatro anos – no período de governo do PSD. Surgira a
chance daquele acreano minorar o sofrimento de seu povo – seu anseio.
Porém, faz-se mister algumas gotas de
reflexão, no tocante às correntes políticas acreanas, na época, e a emancipação
do Território à categoria de Estado. Sendo o PTB oposicionista, seria razoável
o presidente Jango postergar a esperada sanção da lei acreana.
A União Democrática Nacional – UDN, na
realidade, apresentara contestação, porém em termos.
Referira-se aos elementos sociais, aos grupos
políticos, aos elementos administrativos e aos inexpressivos elementos
econômicos. Parodiando a filosofia antiga, para alguns, Acre não possuía terra, ar, água e fogo, isto é, para
tornar-se estado, o Território seria desprovido das substâncias consideradas
como força da natureza estatal.
Talvez não por ironia do destino, mas
propositadamente, a citada Lei, sob o nº 4.070, fora assinada oito meses após a
posse de Ruy Lino que, conforme verifica-se
em sua larga entrevista ao
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro,
também ele apoiava a referida emancipação, categoricamente.
Durante o período que passara à frente do
governo do Território do Acre, Ruy Lino, ao persuadir o presidente João
Goulart, concretizara o anseio de todo o funcionalismo acreano, efetivando-os no
Quadro Permanente, vinculado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores,
medida que visara tanto o desenvolvimento da unidade federativa, como o
bem-estar social.
Quanto à transformação do Acre em Estado a
própria contestação da União Democrática Nacional – UDN, elaborada pelo
competente advogado Aluízio Macedo Maia, não apenas sugerira, como ratificara o
fato de todos os acreanos serem autonomistas.
De fato, as respectivas ilustrações a que se
tem acesso, fornecem comprovação que sugere buscas de entendimentos, entre os
políticos, pois afinal todos são acreanos.
Na certeza de que Jango sancionaria a Lei
acreana, Ruy Lino pedira exoneração onze dias antes, desincompatibilizando-se
do cargo de governador, para candidatar-se a deputado federal pelo Estado do
Acre.
Eleito para sucessivas legislaturas com significativas
margens de votação, Ruy Lino sempre procurou honrar e corresponder os sufrágios
que seus conterrâneos depositavam nas urnas.
Há mais de meio século, até mesmo muitos
adversários, ainda hoje, reconhecem a eficácia do esforçado feito do Deputado
Ruy Lino, no que concerne ao Enquadramento de milhares de servidores. E compreendem também que foi como político ou
parlamentar que ele se imortalizou na história da política acreana,
registrando-se, ainda, que Ruy Lino foi o primeiro, último e único acreano
nomeado Governador do Território do Acre – Delegado da União.
Ruy Lino fora, enfim, um gigante em bondade,
grandeza de atitudes, solidariedade, amizade, lealdade, convicções, exemplo de
boas lutas e desprendimento.
A foto acima registra o principal escalão do
último governo do então Território do Acre. Sentados, da esquerda para a
direita: Alfredo Sanches Mubárac, governador José Ruy da Silveira Lino e Dr.
José Tomaz Nabuco de Oliveira. Em pé, na mesma ordem: Dr. Pojucan Ribeiro,
Abrahin Isper Jr, Prof. Geraldo Gurgel de Mesquita (Secretário Geral), Milton
Matos Rocha, Cap. Manuel Ramos e Dr. Garibaldi Carneiro Brasil.
*Regina Amélia D’Alencar Lino é socióloga, e filha de Ruy Lino. Ex-vereadora, ex-deputada federal, e ex-vice-prefeita de Rio Branco – AC.
... E TARAUACÁ NÃO TEM ABSOLUTAMENTE NADA COM O NOME DELE.
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