Inês Lacerda Araújo
Matança de ratos presos em uma ratoeira, é
essa imagem que vem para descrever o massacre da população civil da Faixa de
Gaza. Espremidos entre o mar, a fronteira com Israel e com o Egito, ambas
fechadas, dois milhões de habitantes não têm para onde fugir dos bombardeios
israelenses.
Enquanto o Hamas se serve de prédios
particulares e públicos para a entrada de túneis e depósito de armamento, e
Israel bombardeia tais prédios, o pior, em abrigos da ONU, mais de mil pessoas,
crianças e mulheres morrem, outras são feridas, mutiladas. Qual esperança para
esse canto fervilhante do planeta?
Leste da Ucrânia, uma senhora tem o teto de
sua cozinha perfurado pelo cadáver nu de uma mulher! Estilhaços de um míssil
derrubaram um avião civil, choveram cadáveres (298) do céu!
Brasil: pai que mata filho, madrasta que o
enterra; policiais que arrastam o corpo de uma mãe caído do porta malas de uma
viatura, talvez ainda com vida; black blocs com seus coquetéis e uma ação de
protesto contra o capitalismo, bancos, revendedoras de veículos, prédios
públicos, mataram um jornalista.
Examinemos a ação terrorista destes
encapuçados. No comando deles no Rio de Janeiro, uma professora de filosofia,
Camila Jourdan. Jovem, bonita, com artigos sobre Wittgenstein. Enfim, mestre,
quer dizer, habilitada para ensinar o pensamento de filósofos, aqueles amigos
da sabedoria, que ensinam ética, moderação, reflexão, raciocínio, lógica, uso
de conceitos, busca da verdade!
Retire-se de nossa sociedade as indústrias,
as trocas internacionais, a mediação dos bancos, o sistema financeiro,
automóveis, ônibus (que foram incendiados), impeçam a circulação de pessoas,
seria o caos.
É isso que visam os anarquistas do movimento
black blocs?
Cegueira social, teórica e prática! Camila
Jourdan chefia a "Organização Anarquista Terra e Liberdade". Ora, se
é "anarquista", como pode ser ao mesmo tempo "organizada"?!
Alguns os defendem em nome do direito
democrático de protestar; enquanto isso os que foram detidos, se serviram do
sistema judiciário que eles próprios querem destruir. Se fossem consequentes e
coerentes, dispensariam advogados, estes, afinal, pertencem ao sistema...
Diante desse quadro (e ele está incompleto),
a pergunta:
Somos melhores que nossos antepassados?
Democracia? Os gregos a inventaram, talvez a
tenham usado mais e melhor do que nós modernos.
Justiça? Os romanos e povos antes deles
tinham leis, códigos e os aplicavam (prisões lotadas? no Brasil atual ...)
Conhecimento, ciências, progresso
tecnológico? O que dizer da Renascença, de Leonardo da Vinci?
Medicina, antibióticos, mas e o vírus ebola?
Não há vacina...
O que procuramos, nós humanos, o que
conseguimos, e o que fazemos conosco mesmos?
Absurdos, abusos, violência, violação de
direitos, muito sofrimento.
A história nos mostra a vida dos povos, e
nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz
nos parecem apenas curtas pausas... E de igual maneira a vida do indivíduo é
uma luta contínua... Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante
luta, e morre de armas em punho (Schopenhauer).
*Inês Lacerda Araújo - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na
PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e
Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.
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