Murilo Mendes (1901-1975)
Entre a tua eternidade e o meu espírito
se balança o mundo das formas.
Não consigo ultrapassar a linha dos vitrais
pra repousar nos teus caminhos perfeitos.
Meu pensamento esbarra nos seios, nas coxas e
ancas das mulheres,
pronto.
Estou aqui, nu, paralelo à tua vontade,
sitiado pelas imagens exteriores.
Todo o meu ser procura romper o seu próprio
molde
em vão! noite do espírito
Talhado pra eternidade das ideias
ai quem virá povoar o vazio da minha alma?
Vestidos suarentos, cabeças virando de
repente,
pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,
seios decotados não me deixam ver a cruz.
Me desliguem do mundo das formas!
MENDES, Murilo. Os Melhores Poemas de Murilo
Mendes. Seleção Luciana Stegagno Picchio. São Paulo: Global, 1994. p.23
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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