Tagore (1861-1941)
Deixa esvanecerem-se todos os escrúpulos
falsos, deixa-me perder o caminho sem esperança de regresso.
Deixa vir uma rajada de insensatez
arrancar-me das minhas amarras. O mundo está cheio de valores, de operários,
úteis e experientes.
Há homens que são os primeiros, facilmente, e
homens que, honestamente, vêm depois.
Sejam felizes e prósperos e deixam-me ser
fútil e doido.
Pois eu sei que o fim de todos os trabalhos é
estar embriagado e arruinado.
Juro submeter agora todas as minhas
pretensões à honestidade. Vou deixar ir embora o meu orgulho de saber e de
julgar o que é bem e o que é o mal.
Despedaçarei o meu vaso de memórias e
lançarei fora o último resto de lágrimas.
Vou limpar e clarear meu riso na espuma do
vinho vermelho.
Rasgarei o traje de
homem normal e farei o sagrado voto de ser uma criatura sem valor, um homem
embriagado e arruinado.
TAGORE, Rabindranath. Tagore, obras selecionadas: O jardineiro, Lua crescente, Gitanjali, O cisne. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1974. p.60-61
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