Inês Lacerda Araújo
O mais conhecido símbolo da reflexão filosófica
é a estátua de Rodin, “O Pensador”. Dobrado sobre si, mão no queixo,
ensimesmado, voltado para si, para seus pensamentos.
Mas, se a reflexão se limitasse às atitudes
acima, a filosofia não teria produzido tantos pensadores com suas obras
geniais, que merecem atenção cuidadosa, estudo, e que são, sobretudo, um
convite à reflexão. Como então se caracteriza a reflexão se não é apenas pelo
voltar-se para si?
A filosofia deve e pode levar a perguntas, ao
questionamento, ela conduz à raiz, à busca de fundamentação, e assim produz
admiração, abre os olhos e a cabeça para nossa situação no mundo, na sociedade,
na história, na cultura, em nossa vida.
Para chegar a esses efeitos, é preciso o que
se poderia chamar de material de trabalho filosófico: ideias, noções,
conceitos, propostas, indagações feitas pelos filósofos, mas não só por eles.
Historiadores, artistas, escritores, jornalistas contribuem com material para a
reflexão. A diferença está no grau de elaboração do material, enquanto os
filósofos levam as questões a um nível mais geral, à abstração, às
fundamentações, um artista, um cientista, um historiador, um escritor (e outros
mais...), recolhem material mais concreto, documentos, situações do cotidiano,
pesquisam, investigam. Eles precisam quantificar, construir com dados da
realidade empírica para chegar a resultados, a feitos e fatos.
Isso não significa, como dito acima, que a
reflexão filosófica seja feita nas nuvens, que o filósofo, ao abstrair, esteja
longe das questões e problemas da realidade social, cultural, do avanço
científico, dos acontecimentos locais, nacionais e mundiais.
De onde a filosofia extrai o conceito de
justo, de belo, de bom? E o de verdade? Qual a motivação ou inspiração do
filósofo para compreender o sentido da existência humana, de seus valores, das
exigências de justiça, de melhoria da condição humana?
Justamente, das situações, acontecimentos,
batalhas, contradições, sentimentos, buscas, indignação, aprovação,
realizações, e de tudo o que nos constitui. A reflexão nos conduz a perguntar
se isso tudo faz sentido ou se tudo isso é absurdo, se podemos conhecer os
limites de todos os seres, ou não temos como saber o que nos limita. Os
conceitos de ser e nada são abstrações? De que afinal se alimenta a filosofia?
Quem levaria mais a fundo a reflexão
filosófica, Dostoiévski em “Crime e Castigo” ou Wittgenstein no “Tractatus
Logico-Philosophicus”?
Sofrimento, liberdade, valores, justiça,
punição, consciência moral, dilemas éticos, a produção literária de Dostoiévski
dá a pensar.
Lógica, fatos gerais que constituem o mundo,
limites do pensamento e da linguagem, a estrutura do mundo, como obter sentido
para Wittgenstein, e isso pela análise filosófica.
Em comum: produzir, criar, levar a reflexão
sobre nossas condições ao limite do possível, ilustrado pela tragédia
(crime/morte) ou pela busca da forma lógico-gramatical, arcabouço último do
sentido, lado a lado com o que é inexprimível (divino/inefável).
Em suma:
Refletir requer analisar, reunir pensamentos,
dispor deles em certa ordem, concluir com sínteses renovadoras, dar razões,
exigir rigor no raciocínio, e ser verdadeiro em seus propósitos.
Impossível sem honestidade e curiosidade
intelectuais.
* Inês Lacerda Araújo - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.
* Inês Lacerda Araújo - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.
A Filosofia é a base da Pirâmide do Conhecimento Humano, sem Filosofia não haveria questionamentos, sem questionamentos não haveria evolução, sem evolução não haveria não haveria o Homem.
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