terça-feira, 17 de março de 2015

OS DESCORDANTES LANÇAM O PRIMEIRO ÁLBUM “ESPERA A CHUVA PASSAR”

Daniel Perroni Ratto

A paisagem equatorial das melodias Descordantes irradia um desejo pelos amores não correspondidos, cantados nas trovas de outrora. Como catalisadores das dores, das desilusões, de um admirável mundo novo, nas fronteiras amazônicas do Acre, “Espera a Chuva Passar”, esses seres bucólicos trazem ventos independentes de talento e esperança.

Desde o início daquela região do Brasil, têm o povo, ares revolucionários. Pensamento original. Seringueiros proclamaram o Estado Independente do Acre em 1903, todavia, logo em seguida, foi incorporado ao país. Sempre ouvi as estórias de João Donato, em seu primeiro acordeão, em suas músicas ou de Jorge Cardoso. Tive um longo passeio por umas porongas flamejantes de rock and roll.

Senti todas essas influências e tantas outras, no brega rock deste álbum descordante. Senti minhas próprias dores, tal que, fui buscar no subconsciente, reminiscências imagéticas das fraturas do meu coração. Eis que fui.

Lembro de estar apaixonado nas praias de São Vicente, surfando as ondas imaginárias do amor. A briga era inevitável assim como Reginaldo Rossi no boteco do desalento. Desesperado, nadando em copos de cachaça, pensava que poderia ser tudo diferente. Quando a chuva caiu, avisei que ela tinha “Três Dias” pra voltar. Fiquei na melancolia.

Teclados psicodélicos surgiram “Hoje De Manhã”, escutei uma voz pernambucana dizendo que tudo iria mudar no café da manhã. Levantei vagarosamente, estiquei os braços até a janela do quarto. Vi o oceano da saudade. O telefone tocou e ouvi que nada era verdade. Guitarras choravam a dor do mundo. Abri a porta e parti.

Na retórica dos planos perfeitos, “Eu Sei Que Não Sou O Que Você Espera De Uma História De Amor”, mas permita que o Sol nasça de novo. Deixe que esse tempo distante nos leve para mais perto de nós. Neste instante, mesmo aqui, no Acre, eu acredito. Só não sei o que se passa na sua cabeça.

Viajando pelo sertão cearense, em estradas desertas, solitárias, vejo carnaúbas e gaviões. Só consigo pensar que, “Enquanto Puder”, estarei ao seu lado. Não me importa quantas dificuldades se apresentem, cuidarei do seu vício.

Olha lá, já não estou mais aqui. Dali, fui à Copacabana. Tem samba rolando. Meu “Amigo Amarelo” desceu mais um chopp. Tem rock rolando. George Naylor nas baquetas, Diego Torres cantando e tocando violão, Marxson Henrique nos teclados psicodelicamente romantizados e Saulo Melo no contrabaixo são Os Descordantes! O sol é forte e o Cristo Redentor abre os braços, cheio de alegria e suingue. Ondas perfeitas quebram no Arpoador. Fui parar no Jobi.

“A Hombridade” que me toma, forçou uma esticada para aquele conhecido cabaré de luzes vermelhas, com muitas mesas, dois gatos pingados, a pinga na garrafa e o velho seresteiro com seu teclado a tocar Odair José. Vejo você em todas as belas. Não viva uma vida de mentiras, só espero que me digas o que fazer. Bebo a última dose, quero rock, quero “Sair Daqui”. Desencanei, meu bem, não sei o que dizer esperando você voltar.

Em calmas corredeiras do destino a “Descrença” aumenta. Saio do trabalho a caminhar pelos labirintos da babilônia futurista. Questiono as dialéticas, as ideologias, o amor. Deixo de fora o sujeito da discórdia. Dos meus chifres. Este é assunto intrínseco. Lá em Santos, vi “O Porto e o Rio” tantas vezes como te vi. Mas você se foi.

Sinto muito se não deu, “Não Me Leve A Mal”, também estou triste, tentamos. Saudade. A vida é mesmo assim. Um assobio que traz novas possibilidades, novas estórias, quem sabe, fazer história. Um passo para frente. Futuro. Não foi falta de amor, só gosto de ficar sozinho. Penso que não seja “Nada Demais” nos mares dos relacionamentos. Lembro de estar apaixonado nas praias de São Vicente…


Daniel Perroni Ratto é poeta, músico, jornalista e professor. É autor de livros como “Urbanas Poesias'' (Editora Fiúza, 2000), “Marte mora em São Paulo'' (A Girafa, 2012) e “Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Ed. Patuá, 2014).

Quem quiser ficar atualizado sobre a banda pode acompanhar a página deles. Para vê-los em ação, clique aqui. E para ouvir o som deles, clique aqui!

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