Na década de 70, época de meu casamento,
realizado em Rio Branco capital do Acre, estava havendo um racionamento de
energia elétrica na cidade. Por causa desse problema energético eram escalados
os bairros que teriam luz, e os que ficariam no escuro, seguindo um determinado
calendário elaborado pela Companhia de eletricidade, a Eletroacre.
Meu amigo e saudoso Radialista José Lopes,
era o então diretor da Rádio Difusora Acreana. Nesse mesmo tempo, eu exercia as
funções de locutor e chefe dos setores de Programação e do Artístico.
O Zé (Lopes) como era carinhosamente chamado por todos, tratou logo de resolver junto à Eletroacre o fornecimento de energia para o dia do casamento, pois pelo calendário estabelecido nesse dia do enlace, o bairro onde estava situava a residência da noiva estaria no escuro.
O Zé (Lopes) como era carinhosamente chamado por todos, tratou logo de resolver junto à Eletroacre o fornecimento de energia para o dia do casamento, pois pelo calendário estabelecido nesse dia do enlace, o bairro onde estava situava a residência da noiva estaria no escuro.
Toda essa preocupação do Zé com a luz era que
a Rádio Difusora Acreana, transmitiria o casório. Ele, João Nascimento
(técnico) e mais dois funcionário da emissora, passaram mais de uma semana para
arrumar o local da irradiação. Não existiam ainda nesse período da história, os
modernos aparelhos sem fios. Toda a fiação foi colocada nos postes até a casa
da noiva. Foram muitos testes antes do evento.
O Zé fazia questão de dizer aos que lhe
perguntavam que a transmissão do casamento pela emissora, era um presente da
Difusora ao Radialista Gilberto de Almeida Saavedra, pelos relevantes serviços
prestados à rádio.
Segundo ele (não pesquisei) foi o primeiro
casamento transmitido pela Difusora, ao um integrante de sua equipe. Os colegas
de rádio, em seus programas, costumavam brincar comigo falando sobre o
casamento. Até o nosso saudoso e querido bispo, Dom Giocondo Maria Grotti, me
presenteou com sua celebração ao casamento.
O grande dia chegou. O enlace foi celebrado
na Catedral Nossa Senhora de Nazaré. Os padrinhos da noiva foi o casal Geraldo
Gurgel de Mesquita (ex-governador) e esposa D. Ivinha. Do noivo (meus
padrinhos) a família Castro, o casal Cláudio de Holanda Castro e Maria R. de
Araujo Castro. A festa na casa da noiva, Maria Alany Mesquita, localizada no
bairro da Cerâmica recebeu os convidados. A D. Ivinha fez questão de
confeccionar e presentear o bolo da noiva. Ela era madrinha de batismo da
noiva.
Meus amigos e colegas de imprensa da época
compareceram em massa. Infelizmente muitos já não estão entre nós. Faço questão
de reverenciá-los: José Lopes, meu compadre Anselmo Silva, Campos Pereira,
Nivaldo Paiva, Jorge Cardoso, Compadre Lico, Orlando Mota, Cláudio Mota, Zé
Conde, Delmiro Xavier, Cícero Moreira, João Nascimento, Elzo Rodrigues, Orsetti
do Vale, Rivaldo Guimarães, Jurivaldo Brasil, Manoel Ribeiro e muitos que não
me recordo no momento, além dos convidados em geral, amigos e parentes.
O casamento começou cedo em virtude da luz
que apagaria às 11h00min horas da noite. Ficou acesa até esse horário no
bairro, só por causa do pedido do Zé. A transmissão pela Difusora foi
realizada, mas acabou em menos de uma hora. Transmissão de festa sem imagens
não é lá essas coisas. Porém o registro foi feito. O radialista e advogado José
Lopes e jornalista e advogado Anselmo Sobrinho comandaram a cobertura do evento
matrimonial.
Agradeço de coração pela cobertura da rádio
ao meu enlace. Um grande e inesquecível presente, que eu como todo mortal
jamais poderia esquecer. Obrigado Zé (Lopes) onde você estiver. Você foi
demais, um grande profissional e amigão. Ao Anselmo, João Nascimento e toda a
equipe da Difusora.
A luz apagou e a festa continuou mais um
pouco, pois ainda alguns convidados se faziam presentes. Aí os noivos
resolveram se mandar.
Saímos de táxi, o motorista era um conhecido,
meu amigo de infância, meu vizinho chamado Ney, filho de uma amiga da família,
Dona Lourdes. Alias quase todos os meus vizinhos de rua compareceram ao
casamento. Convidei todos. Os que não foram por algum motivo não se fizeram
presentes.
A nossa nova morada (alugada) ficava próxima,
ao bairro chamado Aviário. Era uma casa de telhado de duas águas, novinha em
folha, que eu e meu cunhado Carlos Mesquita (falecido), fizemos questão de
pintá-la. Tinha uma sacada (varandinha) na frente, sala, cozinha e dois
quartos. Um dos cômodos de dormir dava de frente para a rua. Na frente da casa
na existia muro e eu aproveitei o espaço vazio e plantei gramas.
Era uma ruazinha que dava acesso à principal
que ficava uns 30 metros da casa. A pequena rua deveria ter no máximo uns 50
metros, e no final, tinha uma fazenda de propriedade de um senhor chamado de
Capitão Beco bastante conhecido na cidade. De noite alguns bois costumavam sair
da área da fazenda e circular pelas vizinhanças.
E foi aí que um desse gado se dirigiu para a
nossa casa, para deglutir a grama que eu plantei na frente da casa, bem
encostadinha do quarto da frente, no mesmo horário, em que eu e minha mulher
iríamos passar a nossa primeira noite de casados. A cama era bem próxima à
janela que tinha uma altura baixa. Noite, já sem luz e bem escura. Deixei
apenas dentro de casa um Aladim, aceso.
Pois bem: o touro resolveu comer o capim
(grama), que ficava encostado à janela do quarto, na hora que nós já estávamos
deitados. Ele era um boi imenso, com um par de chifres que não tinha tamanho,
igual. Kkkkkkk! Conforme o boi arrancava o capim com os dentes, nos movimentos,
batia com os longos chifres na parede do quarto, provocando forte pancadas.
Levamos um grande susto e ficamos apavorados
com o barulho! Pulamos da cama numa rapidez incrível. As batidas continuaram. E
aí eu, gritei!
– Quem é? Quem tá batendo?
[Minha mulher] Pelo amor de Deus! O que você
quer?
As batidas continuaram e ninguém respondeu.
Mesmo com muito medo, resolvi abrir a janela. Pedi a senhorita “ainda”, para se
aproximar da janela com o Aladim, e com a outra mão, abrir bem rápido a janela,
que era de correr. Eu com um terçado (facão), pronto para o inesperado
confronto com o misterioso e barulhento visitante noturno.
Quando a minha mulher, com força! Abriu a janela! Eu me arremessei pra frente da janela com o facão em punho, e me dei de cara (frente) com uma imensa cabeça fedorenta, longos chifres e dois grandes olhos arregalados que pareciam mais duas tochas de fogo olhando pra mim. Assustei-me! Em milésimo de segundo ficamos inertes, eu e minha mulher.
Quando a minha mulher, com força! Abriu a janela! Eu me arremessei pra frente da janela com o facão em punho, e me dei de cara (frente) com uma imensa cabeça fedorenta, longos chifres e dois grandes olhos arregalados que pareciam mais duas tochas de fogo olhando pra mim. Assustei-me! Em milésimo de segundo ficamos inertes, eu e minha mulher.
Aí a criatura deu uma fortíssima e longa
respirada pelas narinas e mugiu bem alto. Muuu! Eu gritei! _ É O SATANÁS!
SALVE-SE QUEM PUDER! Kkkkkk! Dei um pulo pra trás, largando o cutelo. A minha
mulher também correu largando o Aladim que caiu em cima da cama. Kkkkkk!
O touro, também já assustado com tudo que
estava acontecendo (gritaria dentro de casa), pra completar o cenário de pavor
deu mais um mugido bem mais alto do que o primeiro (MUUU), provocando um eco
ensurdecedor dentro de casa e, ‘pernas pra que te quero’! Saiu correndo, também
com medo. Kkkkkkkkk!
O fogo já tinha ateado na cama. Corremos até
a cozinha apanhamos água e extinguimos as labaredas.
Depois de todo esse inusitado episódio,
caímos em gargalhadas. Naquela noite, ninguém, ou melhor: eu e minha mulher,
não conseguimos mais nada, nem dormir. Então fomos pra cozinha saborear, comer
outras “coisas”. Motivo: os noivos ficaram “SEM NOITE DE NÚPCIAS, PORÉM ENGRAÇADA”,
por resto de nossas vidas.
Agora você imagina, um boi de chifres longos
me aparece no meu primeiro dia de casamento? Ainda bem que eu consegui
espantá-lo pra bem longe de minha casa. Kkkkkkkk!
Tenho quase 50 anos de convivência com essa
valente, batalhadora e simples mulher, que me inspira e que me dá força para
continuar vivendo.
(estou incluindo quatro anos de namoro para
chegar aos 49 anos).
“Acho que as “mãos abençoadas de Dom
Giocondo” e esta “saudação” de José Lopes (mensagem iluminada) logo abaixo,
disseram Amém aos nossos destinos”.
Seria ingratidão de minha parte, não aproveitar a oportunidade e não publicar esse pensamento de José Lopes, que leu durante a transmissão.
Seria ingratidão de minha parte, não aproveitar a oportunidade e não publicar esse pensamento de José Lopes, que leu durante a transmissão.
SAUDAÇÃO DE JOSÉ LOPES, EM NOME DA “RÁDIO
DIFUSORA ACREANA”.
AOS NUBENTES GILBERTO A. SAAVEDRA E ALANY –
25-07-70
(TRANSCRITO DO ORIGINAL)
Senhor Alan e Digníssima esposa
Senhor Levy Cervantes Saavedra e Digníssima
esposa
Senhores convidados e demais presentes
Meu nobre e dileto amigo Gilberto Saavedra
Distinta jovem, senhora Alany.
A festa magnânima, que neste momento se
realiza nada mais é do que um passo a mais em suas existências. Talvez o mais
importante seja o significado realizado pelos seus pés no solo terreno.
Este momento é de júbilo e emoção para o Sr.
Alan e senhora Geny, porque às mãos de um moço, colocam uma joia que mimaram e
guardaram durante longos anos, porque amanhã sentirão o lugarzinho vazio, do
mais belo bibelô, que durante tanto tempo ornamentou o seu lar.
Este momento é de grande emoção para o Dr.
Levy Saavedra e para a senhora Rita, porque acabam de confiar a uma jovem, os
cuidados especiais que devotaram durante longos anos, ao filho querido que
parte para uma vida nova.
Este momento é de grande emoção para todos
nós que assistimos esta cerimônia divina, porque queremos ver Gilberto e Alany
sempre sorridentes como aí estão, e que esta felicidade inigualável, jamais
seja esquecida, fique indelével em ambos os corações.
E, para esta felicidade, poder-se-ia dizer,
sem temor de equívoco, que as bases da família feliz, são fornecidas por duas
pedras angulares: O AMOR e a SUJEIÇÃO, firmemente assentados sobre o fundamento
de uma personalidade amadurecida.
Esses dois princípios regedores são
comparáveis a duas fontes das quais emanam todas as qualidades do bom êxito da
família, como unidade cooperativa, fundamento da sociedade e molde onde se
plasmam os homens e as mulheres de caráter firme e de princípios morais
elevados e sólidos, de que tanto necessitamos nesta hora incerta em que vive a
humanidade.
Na família sã, há companheirismo; há
fraternidade. Os esposos são confidentes mútuos. Anunciam-se ideias entre si,
preocupações, decepções, problemas e momentos felizes.
Estes dois princípios ou pedras angulares que
citamos a pouco, foram apresentadas por “São Paulo”.
“Vós mulheres, sujeitais a vossos maridos,
como ao Senhor”. “Vós maridos, amai vossas mulheres”. Deve os maridos amar as
suas próprias mulheres, como a seu próprio corpo. “Quem ama a sua mulher,
ama-se a si mesmo”.
Convém salientar que aquela sujeição citada
acima, da esposa para o marido, não se refere a uma submissão escravizadora,
mas sim, uma grata colaboração em uma causa comum.
O fundamento da felicidade conjugal está em
que o esposo e a esposa possuam personalidades equilibradas e amadurecidas; que
não tenham traços desagradáveis e ao contrário sejam capazes de oferecer um
amor perfeito.
O amor é sofredor, é benigno: o amor não é
invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. O amor não se
porta com busca a interesses; o amor não se irrita, não suspeita mal. O amor
tudo sofre, tudo crê, tudo espera!... O amor tudo suporta e o amor nunca falha.
Como vêm não se pode considerar o amor como
um sentimento simples e de fácil definição, por que é um processo complexo no qual
se tecem e entretecem sentimentos como o afeto, a bondade, emoções como a
agressividade e tendências instintivas como a necessidade sexual.
É, portanto, dentro desses princípios que em
nome de todos da Rádio Difusora Acreana, eu vos saúdo, para que do princípio ao
fim, vossas vidas seja um elo só, inseparável, sorridente, para a felicidade de
todos nós que nesta hora inesquecível, tivemos a satisfação de comparecer.
Parabéns Gilberto Saavedra e Madame Alany
Saavedra
Rio Branco, 25 de julho de 1970.
______________________________________________
JOSÉ DE SOUZA LOPES – DIRETOR DA RÁDIO
DIFUSORA ACREANA
Obs. Qualquer pessoa pode publicar a história
sem problemas de direitos autorais.
GILBERTO DE ALMEIDA SAAVEDRA nasceu no Acre, mas reside na cidade do Rio de Janeiro. É jornalista e radialista. Com uma história marcante no rádio acreano, de modo especial pelas ondas da Rádio Difusora Acreana, a voz das selvas.
GILBERTO DE ALMEIDA SAAVEDRA nasceu no Acre, mas reside na cidade do Rio de Janeiro. É jornalista e radialista. Com uma história marcante no rádio acreano, de modo especial pelas ondas da Rádio Difusora Acreana, a voz das selvas.
Muito obrigado! Meu velho e grande amigo, "JOSÉ DE SOUZA LOPES"; inesquecível e saudoso por tudo que passamos juntos, na "Era de Ouro do rádio acreano. Onde quer que você esteja, esse amigo te reverencia, pela sua sábia eloquência e sua figura, como um amigo do peito; cordial; brincalhão; de bom coração; leal; de um caráter equilibrado, digno de elogios. Você mereceu tudo isso em vida, pela pessoa que você foi. Obrigado por tudo, querido e velho, amigo.
ResponderExcluirGilberto A.Saavedra.