Silene de Farias
É pouca a farinha no prato
e muita água na macaxeira.
É da gripe crônica
à falta de lambedor.
É um filho no peito,
outro no bucho,
outros quatro lambendo o dedo.
A rapadura foi pouca!
É a tristeza do companheiro,
a goteira que aumenta
e molha um outro filho
que arde em febre...
É a peste!
É o andar curvado,
Do peso secular da carga.
É o brilho dos olhos desfeito
Pela fumaça do látex.
A memória é forte!
A mola mestre
do mundo está gasta.
A tecnologia não funcionou.
Acabou a gasolina!
Os tanques estão vazios...
e agora?
O povo vai plantar cana?
Juntar os restos estragados
do fim da orgia do petróleo?
Que os tanques permaneçam vazios!
Que seja esta
a última cena desse ato trágico.
Que o povo plante e cante o que quer.
O BAHIA TÁ ENCANTADO
Silene Farias
Ao Bahia, Soldado da
Borracha
que conheci no Quinari.
que conheci no Quinari.
Vige Maria!
é o Bahia que vem lá
fazendo assombração
na madrugada,
cantando sua canção
sem ser importunado.
Canta, Bahia! canta
feito lobo alucinado
prá essa lua cheia
e tão iluminada.
Canta tuas heresias,
tuas desventuras
no seringal
que já não deu.
SEM PECADO
Silene Farias
Quando todas as igrejas
arderem em brasas,
sobre suas cinzas
surgirá a verdade.
Quando todas as igrejas
arderem,
o sufoco secular dos fiéis
terá seu fim.
Quando todas as igrejas
arderem,
envolto em verdade pura,
o espírito do homem
surgirá
clareando o dia.
Quando todas as igrejas
arderem,
ninguém mais governará
ou pecará contra a humanidade.
ou pecará contra a humanidade.
Glória ao homem nas alturas
e paz na terra!
FARIAS, Silene in CARLOS, Jorge (org.).
Coletânea de Poesias acreanas. Rio Branco: Cia. Teatro 4.º Fuso, 1981. p.17, 53
e 57
Maria SILENE de FARIAS Franca (1951) é
natural de Tarauacá-AC. Em 2002 organizou e publicou Bairro XV e Cidade Nova,
por meio da Prefeitura Municipal de Rio Branco e Fundação Garibaldi Brasil, da
qual ocupava o cargo de presidente. Na década de 1980, Silene Farias participou
da “Coletânea de Poesias Acreanas”, publicado em 1981 pelo grupo denominado Cia.
Teatro 4º Fuso, sob a responsabilidade de Jorge Carlos. Este grupo, conforme
estudos da prof.ª Margarete Edul Prado em “Motivos de Mulher na Amazônia
(EDUFAC, 2006) se voltava para uma poesia de cunho social, tematizando acerca
dos problemas do campo, da exploração, da miséria do seringueiro, etc. O livro,
produção independente, em formato de brochura consta de 50 poemas, com
desenhos, gravuras e reproduções de quadros de artistas locais retratando cenas
de queimadas, do cotidiano e moradia do seringueiro, da mata, das opressões. No
livro Silene de Farias assina três poemas. Também tem um poema (O Bahia Tá Encantado,
p.185) publicado na “Antologia dos Poetas Acreanos 1986”, publicado pela
Fundação Cultural e Casa do Poeta Acreano.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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