terça-feira, 26 de abril de 2016

NA PONTA DE UMA FLECHA

Raimundo Correa (1859-1911)
Jovem defendendo-se do Amor, 1880, William-Adolphe Bouguereau

O deus loiro, rosado e nu, que os poetas
Pintam de aljava ao ombro e arco cingindo,
E, como os serafins e as borboletas,
Com um par de asas palpitante e lindo;

O menino pagão que, nas inquietas
Pupilas de alguns olhos, mora; e, rindo,
Aí às vezes se diverte, setas,
De dentro para fora, despedindo;

Um dia a tais prazeres se abandona
Dentro dos vossos olhos, e, imprudente,
Em um dos olhos fere a própria dona...

Ei-la a flecha nefasta; eu vo-la entrego...
Resta um dos olhos só, mostrando à gente
Que o amor não é completamente cego. 


CORREA, Raimundo. Poesias. São Paulo: Livraria São José, 1958. p.94

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