Filosofia de todo dia
É possível ignorar e deixar passar em brancas nuvens acontecimentos próximos ou em locais distantes, relativos à vida social, à situação política, econômica e mesmo moral?
Infelizmente sim, para grande parte da
humanidade que afirma: "não tenho nada a ver com isso..." e desligam
sua consciência moral, política, social. Deixam que outros se ocupem e se
preocupem, "Eu vou cuidar de minha própria vida".
Engajamento, militância, extremismo, paixão
cega por um partido, grupo social, ideologia política, seria o outro lado da
moeda. Não a indiferença e o absenteísmo, mas pregar, influenciar, passar por
cima de argumentos, deixar de lado a análise atenta e honesta em nome de um
credo político, muitas vezes disfarce para tirar proveito da situação.
Assim, a ética da responsabilidade pleiteia o
meio termo, no meio está a sabedoria, já ensinam filósofos como Aristóteles. O
equilíbrio e a equanimidade levam a aderir a causas, posicionar-se e
responsabilizar-se diante de injustiças, crimes, desvios da legalidade,
corrupção das autoridades que lesam o patrimônio público e burlam regras
essenciais a sua profissão e cargo, em nível mais amplo. E em nível mais
restrito, devemos nos indignar com as faltas e falhas tidas como menores, como
burlar regras de trânsito, pichar, sujar, destruir o patrimônio público e
privado.
A condição primeira da ética da
responsabilidade é a informação fidedigna, pois ignorar ou distorcer
acontecimentos impossibilita responder adequadamente aos erros e desvios, como
denunciar e exigir respaldo e reparos a esses erros e injustiças se não se
conhece o que realmente ocorreu?
Veracidade, legitimidade, respeito às normas
que foram acordadas por todos em estados democráticos de direito, apuração da
verdade, exigência de discussão pública e argumentação sustentada pela busca
incansável do bem comum, isso tudo é indispensável! São também condições da
ética da responsabilidade ouvir as partes interessadas, capacidade de
justificar e estender os resultados a todos os interessados, a chamada
universalização, isto é, o máximo de pessoas julgando, agindo e transformando a
sociedade com respeito ao bem comum.
Ao lado do poder da informação, a outra base
necessária dessa ética é a educação. A responsabilidade é ainda maior e mais
grave quando se trata de educar, de construir a personalidade, de capacitar
para a vida em sociedade, de instrumentalizar para o exercício de uma
atividade. E esses deveres dos professores e dos que propõem as políticas
educacionais são cruciais, são indispensáveis. Inaceitáveis são a negligência, a
indiferença ou o outro extremo, considerar que se pode imprimir na cabeça de
crianças e adolescentes uma "história" falseada imposta como se impõe
uma cartilha: não há outro lado, não há divergência, só o amém ao desgastado
discurso de classe social, de luta de classes, de que o capitalismo é o mal por
excelência.
Ora, é a maior das irresponsabilidades éticas
incutir a noção fácil de digerir de que a pobreza e a desigualdade social são
fruto dos empresários e capitalistas gananciosos...
Uma análise criteriosa da história não só a
nossa, do Brasil, mas a da Europa, da Ásia, da África, portam elementos
diversos, impossível reduzi-la à luta de classes, discurso esse que endeusa o
Estado, que justifica ditaduras, que desconhece propositadamente os ciclos e movimentos
complexos da história.
Não é preciso ser marxista nem gramsciano
para reconhecer que há pobreza, miséria, violência, que educação universal e de
qualidade inexiste.
Mas é preciso ação, preocupação,
responsabilidade principalmente do poder público para tomar iniciativas que
minorem a injustiça social. Produzir riqueza é o melhor meio para reduzir a
pobreza.
INÊS LACERDA ARAÚJO - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.
INÊS LACERDA ARAÚJO - Professora de Filosofia durante 40 anos, na UFPR, e nos últimos anos na PUCPR. Autora de livros sobre Epistemologia, História da Filosofia e Teoria do Conhecimento. Atualmente aposentada.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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