segunda-feira, 27 de junho de 2016

POEMA DOS ACREANOS

Pereira da Silva (1890-1973) 


Avançam pela floresta adentro
Os homens bronzeados do Meio-Norte!
– Gente do litoral e dos sertões bravios,
Onde o fogo do sol dança o bailado das secas,
Sobre o dorso cinzento das caatingas.

Tombas sumaumeiras. Clareiam estradas.
E lá se vão os nordestinos,
– Loucos pelo ideal de um Brasil bem brasileiro,
Doidos de amor pela terra morena das palmeiras!

 Lá se vão – penetrando rios,
Abrindo rumos pela selva escura,
Galgando barrancas artilhadas,
Trazendo desfraldado um trapo verde-amarelo,
Onde uma estrela de sangue acena o caminho da glória!...

São agora os indômitos acreanos!

– Cavando uma trincheira em cada sapopema,
Com saudade, com febre e com esperança,
Enfrentam legiões aguerridas! E vencem!
E vencem cantando – feridos, desnudos, famintos, alegres,
Conduzindo o Brasil vitorioso à Bolpebra!

Brava gente morena, audaz, de olhar cheio de sol!
– Quem sois vós? Porque andais em guerra, penetrando
As entranhas da mata, em combate aos exércitos
Que desceram o altiplano, embriagados no sonho
De fazer ressurgir o Império de Atahualpa,
Desde os andes nevados
À grandiosidade verde e eterna do Rio-Mar?

– “Nós somos o Brasil dos seringueiros do Aquiri!
Primeiro, afrontamos as iras do sol que nos matou a felicidade
E pelo sofrimento conquistamos um Paraíso Verde!

À beira dos rios e paranás derramamos o nosso sangue.

Mas, fomos adiante. Era mister a luta.
Ferir. Matar. Morrer, honrando a nossa raça,
Conquistando, a punhal, trincheiras e trincheiras,
Na ânsia de ter um luar sob frondes eternas.

Acreanos!... Nós somos o destino
De um povo infante, inquieto, em marcha ascensional...

Com a nossa valentia e o nosso sangue,
Entre fuzilarias e clamores,
Estamos modelando e repolindo,
Para que brilhe tanto quanto as outras,
Entre fulgurações e glórias, sobre a terra,
A estrela que faltava na bandeira do Brasil!” 


SILVA, Pereira da. Poemas amazônicos. Manaus: Valer, 1998. p.233-237

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