Paul Géraldy (1885-1983)
Eu gosto, gosto de você!
Compreende? Eu tenho por você uma doidice...
Falo, falo, nem sei o quê,
mas gosto, gosto de você
Você ouviu bem isso que eu disse?...
Você ri? Eu pareço um louco?
Mas que fazer para explicar isso direito,
para que você sinta?... O que eu digo é tão oco!
Eu procuro, procuro um jeito...
Não é exato que o beijo só pode bastar.
Qualquer coisa que me afoga, entre soluços e
ais.
É preciso exprimir, traduzir, explicar...
Ninguém sente senão o que soube falar.
Vive-se de palavras, nada mais.
Mas é preciso que eu consiga
essas palavras, e que eu diga,
e você saiba... Mas, o quê?
Se eu soubesse falar como um poeta que sente,
– diga! – diria eu mais do que
quando tomo entre as mãos essa cabeça linda
e cem, mil vezes, loucamente,
digo e repito e torno a repetir ainda:
Você! Você! Você! Você!... p.16-17
EXPANSIONS
Paul Géraldy
Ah! je vous aime! Je vous aime!
Vous entendez? je
suis fou de vous, je suis fou...
Je dis des mots, toujours les mêmes...
Mais je vous aime! Je vous aime!...
Je vous aime, comprenez-vous?
Vous riez? J'ai l'air stupide?
Mais comment faire alors pour que tu saches bien,
pour que tu sentes
bien? Ce qu'on dit est si vide!
Je cherche, je cherche un moyen...
Ce n'est pas vrai que les baisers peuvent suffire.
Quelque chose m'étouffe, ici, comme un sanglot.
J'ai besoin d'exprimer, d'expliquer, de traduire.
On ne sent tout à fait que ce qu'on a su dire.
On vit plus ou moins à travers des mots.
J'ai besoin de mots, d'analyses,
Il faut, il faut que
je te dise...
Il faut que tu
saches... Mais quoi!
Si je savais trouver
des choses de poète,
en dirais-je plus - réponds-moi -
que lorsque je te
tiens ainsi, petite tête,
et que cent fois et
mille fois
je te répète
éperdument et te répète :
Toi! Toi! Toi!
Toi!...
SERENIDADE
Paul Géraldy (1885-1983)
Que foi que você disse, há pouco, ao
despedir-se?
Que nós não nos gostamos mais?… Gostamos,
sim!
Você chorou? Por que você há de ser assim?…
Mas se eu digo que sim! Não ouviu o que eu
disse?…
Seja mais simples, mais humana! Não complique
as coisas! Hoje em dia, entenda bem, já são
ridículas demais essas preocupações
de se escrever, sob pretexto de ser “chic”,
com maiúsculas só, Amor e Coração.
Usamos expressões inúteis, expressões
que atrapalham até… Nós dizemos: o meu,
o nosso Coração… E fazemos questão.
Se a gente não tivesse essa preocupação,
simplificava muito as coisas, compreendeu?
Não existe o que é nosso: existe eu e você.
Sim, um eu e um você sem nada de especial.
A gente embriaga-se de frases afinal,
e vive exagerando tudo, para quê?
Se a realidade nunca alcança uma ilusão…
Por favor, deixe o seu, deixe o meu Coração!
Vamos ser nós, só nós!… Sim, é verdade,
agora,
quando a gente se vê, já não é como outrora,
não se embaraça mais… Mas é assim mesmo… O
quê?
Mas não há nada, aí, de trágico! Você
e eu estamos mais calmos só. É natural.
É o hábito. Nós já nos habituamos. E,
se é sem paixão que nós nos vemos, cada qual,
quando o outro não está, sente-se mal, tão
mal,
e aborrece-se, e sofre muito, e fica tão
desgraçado… Mas isto é alguma coisa, então!
p.30-32
SÉRÉNITÉ
Paul Géraldy
Qu’est ce que tu m’as
dit encore, en me quittant:
que’l on ne s’aimait plus? ...Mais si, mais si, on s’aime!
tu as pleure? tu
seras donc toujours la meme?
Mais puisque je te
dis qu’on s’aime! tu m’entends?
Sois donc plus
simple! il faut toujours que tu compliques
les choses! dis-toi
donc qu à notre epoque, enfin,
cela devient par trop
poncif et ridicule,
sous pretexte qu’on
est des amants un peu fins,
d’ecrire Amour et
Coeur avec des majuscules.
Nous employons des mots qui servent a rien,
et qui sont tres génants..et dangereux! On pose!
On dit: mon coeur , notre Coeur... On y tient.
je te jure que’l on s’en passerait tres bien,
et que ce la simplifierait beaucoup les choses.
il n y a pas nos
Coeurs: il y a toi et moi, oui, toi et moi,
qui n’avons rien d’extraordinaire.
Mais on se grise avec des mots, on s’exagere
l’importance de tout, et puis on s’aperçoit
que la realite n’est
pas a la hauteur...
je t’en supplie, laissons mon Coeur, laissons ton Coeur!
soyons nous!... Eh! bien, oui, c’est vrai, quand on se voit,
on n’est plus tres troublé.. C’est moins bien qu’autrefois.
tu ne t’affoles pas.. Moi non plus. Eh bien, quoi?
Il n y a là rien de
bien tragique. Nous sommes
un peu calmés? Mais c’est tout naturel, cela.
C’est l’habitude. On est habitué. voilà.
Si nous nous retrouvons sans passion, en somme,
chaq un de nous s’ennuie quand l’autre n’est plus là.
On se croit
malheureux, on n’a de gout à rien,
on se sent seul ... Eh ! bien, mais c’est deja tres bien!
ABAT-JOUR
Paul Géraldy (1885-1983)
Você pergunta porque eu fico sem falar...
Porque este é o grande instante em que
existe o beijo e existe o olhar
porque é noite... e esta noite eu gosto de
você!
Chegue-se bem a mim. Eu preciso de beijos.
Ah! se você soubesse o que há, esta noite, em
mim
de orgulhos, ambições, ternuras e desejos!...
Mas, não, você não sabe, e é bem melhor
assim...
Abaixe um pouco mais o “abat-jour”! Está
bem...
É na sombra que o coração fala e repousa:
tanto mais os olhos veem,
quanto menos se veem as coisas ...
Hoje eu amo demais para falar de amor.
Venha aqui bem perto! Eu queria
ser hoje, seja como for,
aquele que se acaricia...
Abaixe ainda mais o “abat-jour”.
Vamos ficar sem dizer nada.
Eu quero sentir bem o gosto
das suas mãos sobre o meu rosto!...
Mas quem está aí? Ah! a criada
que traz o café... Não podia
deixar aí mesmo? Não importa!
Pode ir-se embora!... E feche a porta!...
Mas o que é mesmo que eu dizia?
Quer... agora o café? Se você preferir...
Já sei: você gosta bem quente.
Espere um pouco! Eu mesmo é que quero servir.
Está tão forte!... Assim? Mais açúcar?
Somente?
Não quer então que eu prove por
você?... Aqui está, minha adorada...
Mas que escuro! Não se enxerga nada...
Levante um pouco esse “abat-jour”. p.35-37
ABAT-JOUR
Paul Géraldy
Tu demandes pourquoi
je reste sans rien dire ?
C'est que voici le grand moment,
l'heure des yeux et du sourire,
le soir, et que ce
soir je t'aime infiniment !
Serre-moi contre toi.
J'ai besoin de caresses.
Si tu savais tout ce
qui monte en moi, ce soir,
d'ambition,
d'orgueil, de désir, de tendresse, et de bonté !...
Mais non, tu ne peux
pas savoir !...
Baisse un peu
l'abat-jour, veux-tu ? Nous serons mieux.
C'est dans l'ombre que les coeurs causent,
et l'on voit beaucoup mieux les yeux
quand on voit un peu moins les choses.
Ce soir je t'aime
trop pour te parler d'amour.
Serre-moi contre ta
poitrine!
Je voudrais que ce
soit mon tour d'être celui que l'on câline...
Baisse encore un peu l'abat-jour.
Là. Ne parlons plus. Soyons sages.
Et ne bougeons pas. C'est si bon
tes mains tièdes sur mon visage!...
Mais qu'est-ce encor
? Que nous veut-on ?
Ah! c'est le café qu'on apporte !
Eh bien, posez ça là, voyons !
Faites vite!... Et
fermez la porte !
Qu'est-ce que je te
disais donc ?
Nous prenons ce
café... maintenant ? Tu préfères ?
C'est vrai : toi, tu
l'aimes très chaud.
Veux-tu que je te
serve? Attends! Laisse-moi faire.
Il est fort, aujourd'hui. Du sucre? Un seul morceau?
C'est assez? Veux-tu
que je goûte?
Là! Voici votre
tasse, amour...
Mais qu'il fait sombre. On n'y voit goutte.
Lève donc un peu
l'abat-jour.
GÉRALDY, Paul. Eu e você. Tradução Guilherme de Almeida. São Paulo: Editora Nacional, 1983. (18.a edição)
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DOM HÉLDER CÂMARA
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