segunda-feira, 20 de março de 2017

A ELIZETH

Rogel Samuel


Recebo um presente rico. Um extraordinário presente, de minha Amiga Lyra. É um disco, um primor de Elizeth Cardoso. Eu me lembro que tive outra amiga comum, vizinha e amiga de Elizeth. Uma dama, as três. Elizeth, dizia minha amiga, almoçava frugalmente. Uma fruta, umas folhas de alface. Lutava contra a gordura. Elizeth canta, divina. Me lembro de outras divas, como Montserrat Caballé e La Callas, que também lutaram contra a gordura. “A Sra Onassis é muito gulosa, mas não come nada. Apenas prova o molho com um pedacinho de pão, na cozinha”, conta Christian Cafarakis, biógrafo de Onassis, que foi marinheiro no Cristina. Callas e Onassis brigavam diariamente, aos gritos. Dois temperamentos explosivos. Mas se amavam. Callas nada queria da fortuna dele. Quem deu despesa foi Jackie. Segundo o biógrafo, em três anos de casamento, Onassis deu-lhe 120 pulseiras, 50 de brilhantes, 500 pares de brincos, 300 colares, e mil anéis, além de uma coleção de pedras preciosas, soltas. O mais exótico presente foi um par de sandálias de veludo azul-rei, como “babouches”, com um diamante de 16 quilates em cima, cercado de diamantes e esmeraldas em círculos e triângulos. O Sr. Onassis pagou por isso a soma de 120.000 dólares. Presente de aniversário de Jackie, em agosto de 1970. Elizeth canta, perfeita. Ela me lembra minha prima M., que a adorava, na juventude. M. era uma mulher belíssima. Meu pai a chamava de “bebecadum”, não sei por que. Morava, quando jovem, na Tijuca. Na época a Tijuca era muito elegante. Tínhamos uma vizinha que desfilava num Cadilac branco, conversível, e que morava numa mansão, um pouco acima na Rua Des. Isidro. Nosso vizinho tinha um casal de filhos, jovens e belos. Foi com muita surpresa que, anos mais tarde, eu soube que o menino, hoje, é delegado de polícia, como o pai. Meu tio era vivo e nos levava à Barra da Tijuca, aos domingos. Era uma praia deserta. Minha prima M. casou-se com o empresário J., muito rico, que era muito meu amigo. Eles se foram para os Estados Unidos. A última vez que a vi foi na década de 70, em casa da Mariza Raja Gabaglia, na época casada com um pecuarista. Em Ipanema. Eu estava ali com minha amiga R., quando minha prima M. chegou, com o marido. Década de 70. M. usava um vestido preto brilhante, os ombros à mostra, os cabelos soltos. Nenhum enfeite, nem uma joia. Ornava-se de sua beleza. O salto altíssimo dos sapatos exaltava o porte de seu perfume. Dominava o ambiente, com seu sorriso de rainha. Agradável, simples e digna. Você pensa que a namorei?  Mariza Raja Gabaglia estava no ápice de sua fama e glória, como escritora e mulher. Sim, os anos 70, em Ipanema. Saíamos de madrugada e esticávamos no Degrau. Ou em algum botequim operário, onde era possível encontrar Mário Henrique Simonsen falando de ópera. Sim, vivi os anos 70. Tudo isso me sugere a Elizeth, a Divina. “Seu mal é comentar o passado...” canta ela. Muitos foram os anos que se passaram, Elizeth morreu. Morreu a Callas, o Onassis, a Jackie. Meu tio, meu pai e o empresário J. Todos morreram. A vida está morrendo. Os anos morrem. A vida, eu a recebi, um presente rico, como este disco da Elizeth.

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Um comentário:

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DOM HÉLDER CÂMARA


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