esse filete moroso
se esticando em
suas beiras
vai num cansaço
tamanho
como não fora por
si
que corresse a vida
inteira,
como se alguém o
tangesse
desde a sua
cabeceira
- é como risco de
lápis
um arabesco pequeno
brincando de geografia
Sua textura é igual
a desse corpo que
anima
é sangue ralo do
chão
desses cantos
ribeirinhos
É veia da terra
magra
atravessando-lhe o
corpo,
imprimida à carne
pouca
dessa exposta
ossatura
como lanho de
chicote
Sua espessura – a do
barro
lamacento, fluido,
enxertando a
ribanceira
Um novelo
quebradiço
desenrolando seu
fio
num fôlego, de tão
curto,
mais parecendo
agonia
Um rebanho de boi
manso
desmatando seu
caminho,
cavalgando o dorso
morno
da planície
ressecada,
deitando suas águas
frouxas
sobre a febre
dessas matas
um riozinho de nada
vai assim mesmo,
tangido
dar de beber a
outras águas
Quando é de junho a
setembro
a chuva engorda
esse rio
Vai crescendo sem
sossego
- é como fio de
faca
Riscando terras
mais longe
Das que lhe fazem
de margem
Vai como fio de
faca
afiado em pedra
rente,
cortando de sua
beira
a plantação
espalhada
Como um espelho de
terra
na própria terra
espelhado,
como se fora essa
gente
um dia toda juntada
num ato de rebeldia
Arrancando dessa
vida
o que se tem por
direito
Na sua febre
tornada
também um fio de
faca
reparando
assimetrias
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com