sábado, 23 de setembro de 2017

OS SAPOS [14/12/94]

Ivanilde Gomes Pereira


Minha tia conta que quando os sapos estão cantando eles dizem assim:

“Quando eu morrer quem é que quer minhas galinhas?”
Os outros respondem:
“eu não quero, eu não quero”.

“Quando eu morrer quem é que quer as minhas coisas?”
Os outros respondem:
“eu não quero, eu não quero”.

“Quando eu morrer quem é que quer criar meus filhos?”
“Eu não quero, eu não quero”.

“Quando eu morrer quem é que quer minha mulher?”
Todos sapos respondem:
“eu quero, eu quero”.

E o sapo diz:
“mas eu não morro, mas eu não morro”.

E os sapos ficam tristes.


*Texto retirado da Antologia de escritores da Floresta I / Adelmar Rodrigues de Souza [et al.]; organização Augusto de Arruda Postigo... [et al.]. Campinas, SP: UNICAMP/IFCH/CERES, 2004. p.47

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com