segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A DIFERENÇA ENTRE FILOSOFIA DE VIDA E A AUTOAJUDA

Inês Lacerda Araújo
Filosofia de todo dia

Pode-se dizer que uma filosofia de vida é mais séria, difícil, importante do que a literatura voltada para a autoajuda? Pode-se considerar o pensamento de um Sêneca ou Marco Aurélio (filósofos estoicos, Roma Antiga) mais precioso do que o de uma Louise Hay, Zíbia Gaspareto ou Augusto Cury?

Qual é o sentido de “precioso” aqui?
Raro, difícil de acompanhar ou compreender, culto, e mesmo como se classifica em nossos dias “elitista”?

Para atingir um público amplo (os livros de autoajuda são campeões de vendagem) é preciso trocar em miúdos as ideias e os conceitos, ou são as próprias ideias e conceitos de per si bem acessíveis?

Sim para as duas opções. Trata-se de temas imediatos, do dia a dia, próximos às dificuldades que em geral pessoas enfrentam, como superar perdas, alcançar satisfação em seu trabalho, solucionar questões imediatas e corriqueiras, e para tal, confiar na palavra e nos conselhos dos gurus, dos homens de fé, dos espiritualistas, e mesmo de médicos e psicólogos é fundamental.

E sempre aquele que aconselha é o responsável, é o guia, ele teria a chave do sucesso, da cura, da felicidade. Quem os segue, lê o receituário e aceita novas regras sem precisar responsabilizar-se por seus atos e atitudes, sem necessidade de pensar por si mesmo. Alguém o fará por você.

Se formos contrastar a autoajuda com as filosofias de vida, as diferenças são profundas. Isso não implica em negar o papel da literatura de autoajuda, mas em clarear um pouco os caminhos da reflexão sobre nossa existência, sobre o sentido da vida.

Evidente que o leitor das receitas para bem viver e ter sucesso, quer solução. Tanto que tais livros também se intitulam de manuais.

No caso das filosofias de vida, o leitor não busca adesão, nem chaves para o sucesso, nem autocontrole. É o inverso, os filósofos da existência pensam e refletem sem visar seguidores, iluminam nossas ideias, modificam nosso modo de ver e de pensar, entender sua mensagem basta, o estilo refletido de vida é livre e autônomo.

Alguns exemplos:
O antigo ensinamento que Sócrates adotou “Conhece-te a ti mesmo” sugere que cabe a cada um mergulhar em si, poder exercer esse conhecimento para uma vida plena.

Cuidar de si, saber-se finito, existência responsável e livre (Sartre), entender que só somos no tempo, vamos morrer, que somos “ser-para-a-morte” (Heidegger), celebrar essa finitude (Nietzsche), ou considerar que a vida é frágil sofrimento (Schopenhauer).

Os filósofos abrem perspectivas, por vezes nos deixam sem chão.
A autoajuda resolve, conduz e apascenta.

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