(Locutor de uma parte desse maravilhoso período do rádio)
Em 1944, foi criada
a primeira estação de rádio do Acre, a Rádio Difusora Acreana. Desse então
período, até 1974, ano da fundação da Televisão no estado, o rádio era tido
como o mais imprescindível meio de comunicação de massa da região.
Nesses 30 anos de
domínio (1944/74), o sem fio chega ao seu ápice da fama.
Durante o tempo da
“Era do apogeu” do rádio no Acre, transitaram pela radiofonia acreana dezenas
de excepcionais profissionais do microfone.
Os radialistas que
mais se destacaram desse período de ouro, foram eternizados pelo público
ouvinte pelos seus trabalhos de pioneirismo no rádio, sendo reconhecidos
merecidamente.
Muitos deles, nesse
histórico período de glórias, ficaram populares, famosos, porém outros, com o
decorrer dos anos, foram esquecidos no tempo.
Sem desejar macular
o nome desses admiráveis radialistas, que fizeram histórias no rádio antigo do
Acre, quatro deles, pela maneira, singularmente, de cada um fazer o seu
trabalho (alguns até simples), mas de relevância, se tornaram os ícones do
rádio no Acre.
São eles: Índio do
Brasil, Mota de Oliveira, Natal de Brito e Cícero Moreira.
Esses quatro brilhantes
e inesquecíveis radialistas, ainda, da década de 1950, ninguém os esqueceu. O
tempo se encarregou de torná-los o símbolo (espelho) da radiofonia do Acre.
Para você leitor do
“Alma Acreana”, um pouco do locutor Mota de Oliveira.
Mota, foi um dos
consagrados locutores da Rádio Difusora Acreana, que se imortalizou perante ao
público ouvinte.
Sempre atualizado
com as informações locais e com um vasto conhecimento do que estava
acontecendo, no Brasil e no mundo.
Mota de oliveira
ficou conhecido inesquecivelmente na radiofonia do estado, como o apresentador
da saudade.
Seu famoso programa
“A Hora da Saudade” (criado por Alfredo Mubarac, ainda no seu tempo como
diretor Artístico), tinha uma grande preferência na época, de um público da
‘velha guarda’.
Ele fazia desfilar
os maiores nomes da música popular brasileira: Ângela Maria, Cauby Peixoto,
Sílvio Caldas, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, etc.
Eram muitas cartas
e telefonemas recebidos, mais recentemente.
Junto à sua bela
voz, o seu jeitinho carinhoso, amável de cativar o seu grande público. Ele
dominava um genial improviso, relativamente bem.
Quando o Mota
adoeceu e veio a falecer, tive o compromisso de substituí-lo como apresentador
do seu programa de saudade.
Porém, não tinha o
jeito e o carinho como ele apresentava essa atração musical, por isso, passei o
programa para o Radialista Nivaldo Paiva, que se adaptou muito bem com o
formato e com o público ouvinte.
Nesse tempo, ainda
sem um canal de Televisão no estado, o rádio era o meio de comunicação de massa
com melhor penetração nos lares.
À noite, a família
se reunia em volta do receptor (ao pé do rádio), para escutar o seu programa
predileto. Novela era um deles.
Ainda na década de
(meados)1950, muitos ouviam a Rádio Difusora Acreana, num serviço de alto
falantes, instalado no prédio da antiga secretaria de Agricultura ao lado do
palácio do governo.
Os ouvintes
gostavam de escutar o Noticiário Oficial do Estado (nessa época com o
Jornalista Índio do Brasil), e o programa de “Mensagens para o Interior”
(atualmente o correspondente Difusora).
As mensagens eram
transmitidas acatando plenamente o teor da nota do remetente.
As mensagens ficavam
a cargo do Mota, que era o locutor do horário. Infelizmente não há gravações
originais disponíveis com sua agradável voz.
Escolhemos três
(mensagens) delas do livro Tão Acre – O
Humor acreano de Todos os Tempos II.
Atenção, Senhor João da Silva
No seringal Bom Destino – colocação Vai-Quem-Quer!
SUA ESPOSA AVISA QUE O NEGÓCIO DO CAVALO SÓ ENTROU A
METADE, MAS AMANHÃ FARÁ TODO O ESFORÇO PARA VER SE ENTRA O RESTO DA OUTRA
METADE.
ABRAÇOS E BEIJOS NAS CRIANÇAS DO SEU AMIGO SABÁ
COMBOIEIRO.
Atenção Senhor Severino na colônia Ganso de Ouro!
SEU SOBRINHO JOSÉ AVISA-LHE QUE AO PULAR DO CAMINHÃO NO
QUAL VEIO DE CARONA QUEBROU TODOS OS OVOS, POR ISSO ESTÁ IMPOSSIBILITADO DE LHE
ENVIAR O SEU NUMERÁRIO.
ABRAÇOS DO MESMO.
Atenção Senhor Mané da Isaura
No seringal Linha Velha – colocação Fim da Linha!
SUA ESPOSA AVISA-LHE QUE AO CHEGAR À CIDADE, JUNTAMENTE
COM SUA FILHA MARIA, ELA ENCONTROU UM SENHOR MUITO RICO QUE TEIMOU EM QUERER
COMPRAR O PIRIQUITO DELA.
COMO ELE PAGAVA MUITO BEM, ELA VENDEU.
COM O DINHEIRO ELA COMPROU MUITAS ROUPAS E PEÇAS DE
BAIXO.
O MEU PIRIQUITO COMO É UM POUCO MAIS VELHO, NINGUÉM QUIS
COMPRAR.
ABRAÇOS DE SUA ESPOSA ALZIRA.
PARTICULARIDADE DO
MOTA
Mota fumava muito,
diziam que consumia mais de uma carteira de cigarros por dia.
Ele tinha vontade
de largar o vício, talvez por isso, todas às vezes que chegava à emissora para
cumprir o seu horário de trabalho, antes de entrar, deixava a sua carteira de
cigarros numa das fendas existentes entre os tijolos do muro da emissora, só apanhando
de volta no término do seu expediente.
Segundo alguns
colegas de então, não se sabe se era para evitar um pouco o fumo ou para
economizar.
Outra faceta do
Mota era de ser exclusivo para anunciar uma nota de falecimento.
Ao se ouvir na
rádio Novo Andirá (na qual era também locutor) o prefixo musical ‘Silêncio’, já
se sabia que alguém muito importante tinha acabado de falecer.
Logo em seguida
entrava o Mota e fazia, àquele que acabara de morrer, uma homenagem digna e
fraterna.
Mota de Oliveira
possuía um timbre de voz grave, de locutor padrão (muito raro hoje em dia em
locuções); uma dicção nítida e com uma leitura cadenciada compreendida por
todos.
Como tinha uma voz
poderosa (grossa), passava a ideia para o público ouvinte de que, junto àquela
voz estava um homenzarrão, mas na realidade, não era verdade. Mota era bem
baixinho, calvo, de cabelos crespos e de bigode cheio.
Certa vez, um grupo
de admiradoras suas do interior, em visita à capital do estado, foram aos
estúdios da emissora para conhecê-lo pessoalmente.
Ao serem
apresentadas ao Mota de Oliveira, ficaram completamente desiludidas, perante ao
pequeno físico do famoso ídolo.
Ele
inteligentemente, ao notar o vexame causado ao grupo de admiradoras, saiu-se
bem com a seguinte frase:
“Meninas, são nos
pequenos frascos de perfumes, que estão contidas as melhores fragrâncias.”
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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