segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

MOTA DE OLIVEIRA: O INESQUECÍVEL RADIALISTA ACREANO

Gilberto A. Saavedra – Rio de Janeiro
(Locutor de uma parte desse maravilhoso período do rádio)


Em 1944, foi criada a primeira estação de rádio do Acre, a Rádio Difusora Acreana. Desse então período, até 1974, ano da fundação da Televisão no estado, o rádio era tido como o mais imprescindível meio de comunicação de massa da região.

Nesses 30 anos de domínio (1944/74), o sem fio chega ao seu ápice da fama.

Durante o tempo da “Era do apogeu” do rádio no Acre, transitaram pela radiofonia acreana dezenas de excepcionais profissionais do microfone.

Os radialistas que mais se destacaram desse período de ouro, foram eternizados pelo público ouvinte pelos seus trabalhos de pioneirismo no rádio, sendo reconhecidos merecidamente.

Muitos deles, nesse histórico período de glórias, ficaram populares, famosos, porém outros, com o decorrer dos anos, foram esquecidos no tempo.

Sem desejar macular o nome desses admiráveis radialistas, que fizeram histórias no rádio antigo do Acre, quatro deles, pela maneira, singularmente, de cada um fazer o seu trabalho (alguns até simples), mas de relevância, se tornaram os ícones do rádio no Acre.

São eles: Índio do Brasil, Mota de Oliveira, Natal de Brito e Cícero Moreira.

Esses quatro brilhantes e inesquecíveis radialistas, ainda, da década de 1950, ninguém os esqueceu. O tempo se encarregou de torná-los o símbolo (espelho) da radiofonia do Acre.

Para você leitor do “Alma Acreana”, um pouco do locutor Mota de Oliveira.

Mota, foi um dos consagrados locutores da Rádio Difusora Acreana, que se imortalizou perante ao público ouvinte.

Sempre atualizado com as informações locais e com um vasto conhecimento do que estava acontecendo, no Brasil e no mundo.

Mota de oliveira ficou conhecido inesquecivelmente na radiofonia do estado, como o apresentador da saudade.

Seu famoso programa “A Hora da Saudade” (criado por Alfredo Mubarac, ainda no seu tempo como diretor Artístico), tinha uma grande preferência na época, de um público da ‘velha guarda’.

Ele fazia desfilar os maiores nomes da música popular brasileira: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Sílvio Caldas, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, etc.

Eram muitas cartas e telefonemas recebidos, mais recentemente.

Junto à sua bela voz, o seu jeitinho carinhoso, amável de cativar o seu grande público. Ele dominava um genial improviso, relativamente bem.

Quando o Mota adoeceu e veio a falecer, tive o compromisso de substituí-lo como apresentador do seu programa de saudade.

Porém, não tinha o jeito e o carinho como ele apresentava essa atração musical, por isso, passei o programa para o Radialista Nivaldo Paiva, que se adaptou muito bem com o formato e com o público ouvinte.

Nesse tempo, ainda sem um canal de Televisão no estado, o rádio era o meio de comunicação de massa com melhor penetração nos lares.

À noite, a família se reunia em volta do receptor (ao pé do rádio), para escutar o seu programa predileto. Novela era um deles.

Ainda na década de (meados)1950, muitos ouviam a Rádio Difusora Acreana, num serviço de alto falantes, instalado no prédio da antiga secretaria de Agricultura ao lado do palácio do governo.

Os ouvintes gostavam de escutar o Noticiário Oficial do Estado (nessa época com o Jornalista Índio do Brasil), e o programa de “Mensagens para o Interior” (atualmente o correspondente Difusora).

As mensagens eram transmitidas acatando plenamente o teor da nota do remetente.

As mensagens ficavam a cargo do Mota, que era o locutor do horário. Infelizmente não há gravações originais disponíveis com sua agradável voz.

Escolhemos três (mensagens) delas do livro Tão Acre – O Humor acreano de Todos os Tempos II.

Atenção, Senhor João da Silva
No seringal Bom Destino – colocação Vai-Quem-Quer!
SUA ESPOSA AVISA QUE O NEGÓCIO DO CAVALO SÓ ENTROU A METADE, MAS AMANHÃ FARÁ TODO O ESFORÇO PARA VER SE ENTRA O RESTO DA OUTRA METADE.
ABRAÇOS E BEIJOS NAS CRIANÇAS DO SEU AMIGO SABÁ COMBOIEIRO.

Atenção Senhor Severino na colônia Ganso de Ouro!
SEU SOBRINHO JOSÉ AVISA-LHE QUE AO PULAR DO CAMINHÃO NO QUAL VEIO DE CARONA QUEBROU TODOS OS OVOS, POR ISSO ESTÁ IMPOSSIBILITADO DE LHE ENVIAR O SEU NUMERÁRIO.
ABRAÇOS DO MESMO.

Atenção Senhor Mané da Isaura
No seringal Linha Velha – colocação Fim da Linha!
SUA ESPOSA AVISA-LHE QUE AO CHEGAR À CIDADE, JUNTAMENTE COM SUA FILHA MARIA, ELA ENCONTROU UM SENHOR MUITO RICO QUE TEIMOU EM QUERER COMPRAR O PIRIQUITO DELA.
COMO ELE PAGAVA MUITO BEM, ELA VENDEU.
COM O DINHEIRO ELA COMPROU MUITAS ROUPAS E PEÇAS DE BAIXO.
O MEU PIRIQUITO COMO É UM POUCO MAIS VELHO, NINGUÉM QUIS COMPRAR.
ABRAÇOS DE SUA ESPOSA ALZIRA.


PARTICULARIDADE DO MOTA

Mota fumava muito, diziam que consumia mais de uma carteira de cigarros por dia.

Ele tinha vontade de largar o vício, talvez por isso, todas às vezes que chegava à emissora para cumprir o seu horário de trabalho, antes de entrar, deixava a sua carteira de cigarros numa das fendas existentes entre os tijolos do muro da emissora, só apanhando de volta no término do seu expediente.

Segundo alguns colegas de então, não se sabe se era para evitar um pouco o fumo ou para economizar.

Outra faceta do Mota era de ser exclusivo para anunciar uma nota de falecimento.

Ao se ouvir na rádio Novo Andirá (na qual era também locutor) o prefixo musical ‘Silêncio’, já se sabia que alguém muito importante tinha acabado de falecer.

Logo em seguida entrava o Mota e fazia, àquele que acabara de morrer, uma homenagem digna e fraterna.

Mota de Oliveira possuía um timbre de voz grave, de locutor padrão (muito raro hoje em dia em locuções); uma dicção nítida e com uma leitura cadenciada compreendida por todos.

Como tinha uma voz poderosa (grossa), passava a ideia para o público ouvinte de que, junto àquela voz estava um homenzarrão, mas na realidade, não era verdade. Mota era bem baixinho, calvo, de cabelos crespos e de bigode cheio.

Certa vez, um grupo de admiradoras suas do interior, em visita à capital do estado, foram aos estúdios da emissora para conhecê-lo pessoalmente.

Ao serem apresentadas ao Mota de Oliveira, ficaram completamente desiludidas, perante ao pequeno físico do famoso ídolo.

Ele inteligentemente, ao notar o vexame causado ao grupo de admiradoras, saiu-se bem com a seguinte frase:

“Meninas, são nos pequenos frascos de perfumes, que estão contidas as melhores fragrâncias.”

De coração, fiz esta singela homenagem ao amigo e exemplar colega, o inesquecível Radialista Mota de Oliveira.

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