domingo, 4 de fevereiro de 2018

A MORTE NO ENVELOPE

ROGEL SAMUEL 

A vida é breve. O Brasil não tem tradição de literatura policial. Outros gêneros literários sumiram, também. A nova poesia, os novos contistas, o novo romance. Falta mídia? Não acredito. Faltam editoras. Não faltam leitores. Coelho Neto escreveu 112 livros e 50 peças de teatro. Vida breve. Até o fim Raquel de Queiroz escreveu (e muito bem) no “Estado de São Paulo”. Pode ser lida pela Internet. “Por que os pássaros cantam?”
Recebo um e-mail: “Caro R., o que é diferente em sua crônica é que ela se vai encadeando a partir de referências, sem fixar-se no tema inicialmente proposto. Você segue o fluxo labiríntico...” No tempo de Humberto de Campos, não havia e-mail. Ele recebia inúmeras cartas. Escreveu obra gigantesca, hoje desconhecida. “A morte no envelope” de Luiz Lopes Coelho vem à lembrança nos dias de antraz. Toda semana decido parar de escrever esta crônica. Mas recebo e-mail de gente importante que diz que leu e gostou. Ler já é muito. A literatura não morre no envelope, mas na estante. Coelho Neto e Humberto de Campos escreveram muito, como Camilo, um gênio, que ainda se lê com prazer. Estilo rápido, nervoso e elétrico. A grande massa da literatura morre, morreu, ou morrerá. Balzac escrevia por compulsão. Um dos mais bem sucedidos escritores do Brasil, Jorge Amado, produzia um bom livro a cada dois anos. Mas há autores de um livro só, como Manuel Antonio de Almeida. 
Assis Brasil escreveu (e continua escrevendo) mais de cem livros. Vive de literatura, produz romances, ensaios, antologias. É um mestre. A “Tragédia burguesa”, de Otavio de Faria, tem quinze grossos volumes. Elogiada por Mestre Alceu, hoje desapareceu. Ele era excelente crítico de cinema. Tobias Barreto, dono de respeitável obra, não se encontra. Escreveu obras filosóficas importantes. Onde estão seus livros? Vida breve. Bach resumiu a “poética” de sua música na “A Arte da Fuga” (que contém o seu nome: si bemol, lá, dó, si). Conhecida um século depois. Mas A Arte da Fuga ficou incompleta. A última fuga não acaba; continua a rolar, sem fim. Vida breve. Infinita.

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DOM HÉLDER CÂMARA


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