terça-feira, 26 de junho de 2018

SOBRE O TOMBAMENTO DO SERINGAL BOM DESTINO

Fátima Almeida
Fátima Almeida e Afonso Gondim no barco ancorado à margem do rio Acre.
Julho de 1991 – Porto Acre - AC. Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM
Estava em Porto Acre, com Afonso Godim, que era responsável pela sala memória instalada na antiga Igrejinha de madeira, com exposição permanente de artefatos encontrados naquela área, de uso dos combatentes da chamada revolução acreana que teve seu desfecho naquela localidade. Soubemos, então, de um cemitério de telhas rio acima, quando fretamos uma canoa com motor de popa para ver isso de perto. E foi surpreendente botar os pés no seringal Bom Destino, porque a subida era calçada com ladrilhos, ladeada de árvores e o ancoradouro tinha sido feito de concreto porque ainda restava um pedaço do mesmo. O chalé situado no topo ainda tinha a fachada de madeira, amplas janelas, bandeirolas de vidro fundido, nas cores vermelho, azul e amarelo, de origem francesa. Muito amplo, o chalé, pé direito alto, tábuas resistentes, sendo que a parte dos fundos tinha desabado. Vimos o banheiro de alvenaria, com canos Made in England e próximo, o pequeno cemitério com sepultura de um infante, pelo anjo encimado. Mais recuado, um galpão com centenas de telhas empilhadas, onde se lia “Marselha”.  Na frente, duas castanholeiras espanholas completavam o fausto e a elegância de uma residência de autêntico Coronel de barranco. Propriedade de Joaquim Vítor, nas primeiras décadas e de Rosas Sobrinho, nas seguintes da primeira metade do século 20. Joaquim Vítor, como se sabe, foi um dos incentivadores e financiadores das batalhas contra o exército boliviano entre 1902 e 1903.

A famosa Igrejinha de ferro, pré-fabricada, na Alemanha, que teria sido comprada devido a uma promessa feita por Joaquim Vítor, não se encontrava mais no ex-seringal. Soubemos que populares de Porto Acre pretendiam desmontá-la para fazer forno de padaria e que Padre José Carneiro, que fazia desobrigas por todo o Vale do Acre, assim como seu irmão, Padre Pelegrino, pediu ao comandante do exército no Acre para retirar a igrejinha do local. Conta-se que os soldados fizeram isso em pleno inverno, com muita chuva. Certo é que a igrejinha de ferro foi salva e hoje fica em território do 4º BIS, com um sargento capelão.

Os próximos passos foram mobilizar amigos interessados em Patrimônio Histórico, como Dalmir Ferreira e a arquiteta Edunyra Assef, que tinha realizados projetos para o IPHAN de Manaus e em Rio Branco, no caso da Tentamen. Fizemos uma segunda excursão, com a arquiteta, a escritora Florentina Esteves, a presidente da Fundação Cultural do Estado, Silene Farias. Ozi Cordeiro, do teatro, também nos acompanhou e meu filho Marcel, com dois anos e meio. Foi quando Edunyra tirou muitas fotos para apoiar futuro projeto de reconstrução ou reforma. Na capa de um dos livros de Florentina Esteves, estamos nós numa dessas fotos, coisa que é de lamentar não haver os créditos na contra capa. Dalmir Ferreira fez nova excursão, desta feita para acampar no local, quando fez as medições necessárias durante dois ou três dias para poder refazer a planta baixa.

Um terceiro passo foi formar uma comissão para visitar o proprietário do Bom Destino e algumas instituições para fazer frente ao processo de Tombamento. Josecília, do SESC, nos acompanhou nessa ideia. E demais pessoas que haviam feito o minicurso de História Oral, dado por mim e participado do Seminário de Patrimônio Histórico que também havíamos realizado, no Museu da Borracha. Ao final, restamos três pessoas, eu, Josecília e Dalmir, cansados de rodar na velha Toyota dele atrás de apoio para a causa.

Por fim, Jorge Vianna chegou ao governo e sua equipe entrou em contato com Dalmir Ferreira e Edunyra Assef, para a reforma ou reconstrução do casarão do Bom Destino, o que foi feito. E daí por diante, é mais fácil saber como as coisas foram acontecendo...

GALERIA DE FOTOS
Barco ancorado na praia do Seringal Bom Destino.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Afonso Gondim e Fátima Almeida.
Fátima Almeida e Afonso Gondim caminhando em direção ao casarão do Seringal Bom Destino.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Fátima Almeida e Afonso Gondim caminhando por entre o mato no Seringal Bom Destino.
Julho de 1991. Porto Acre – AC. Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Vista parcial do cemitério do Bom Destino em ruínas, com o anjo esculpido.
julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Fátima Almeida e Afonso Gondim vistoriando o casarão, rodeando pela vegetação.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Parte superior da fachada do casarão do Bom Destino com detalhes das bandeiras dos dois janelões da frente, uma luminária, três símbolos em alto relevo sendo uma estrela ao centro e dois triângulos aos lados e dos lambrequins.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Fátima Almeida e Afonso Gondim vistoriando o casarão, rodeando pela vegetação.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM

Lateral esquerda da casa do gerente do Seringal Bom Destino.
maio de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Detalhe interior do Chalé.
Detalhes da varanda (corredor) do chalé do seringal Bom Destino.
Julho de 1991. Porto Acre – AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Detalhe do calçamento em ladrilho da alameda que dá acesso ao chalé Bom Destino rodeada pelo matagal.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural - FEM
Vista do perfil de Fátima Almeida, Coordenadora do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural.
Julho de 1991. Porto Acre - AC
Foto: Valdirene Mendes
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM


BOM DESTINO EM 2018 






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